sábado, 15 de novembro de 2014

OS DOIS SONHOS DE JOSÉ

Era uma vez um marceneiro de nome José. Ele vivia numa cidadezinha bem longe lá no meio do mundo. Tinha uma esposa que gostava muito dele e dois filhos que eram muito bonzinhos. A família morava numa casa pequena, mas bem construída e era casa própria. Tinham comprado com financiamento e já estava paga. José tinha sua marcenaria ao lado da casa. Não era uma marcenaria grande, mas era bem montada e tinha uma boa freguesia. A família vivia com simplicidade, sem luxo, mas era uma vida decente e em paz.
Uma noite, José teve um sonho muito estranho. Quando ele acordou contou para a esposa o sonho. Tinha sonhado com um tesouro escondido embaixo de uma grande pedra redonda à beira de um rio caudaloso.
Ele disse à esposa que ia sair em busca do tesouro sonhado. Quando ele o encontrasse ficaria rico.
A esposa ponderou que ele não devia fazer aquilo. Eles viviam bem. Uma vida modesta, mas eram felizes.
José não deu ouvidos à esposa. No mesmo dia fechou a marcenaria. Nem acabou as encomendas em andamento. Seus clientes ficaram na mão. Vendeu suas máquinas e ferramentas por um preço bem baixo para vender rápido. Deixou um pouco de dinheiro com a esposa. Guardou para si o restante do dinheiro numa carteira. Numa mala, arrumou objetos pessoais, uma pá e uma picareta para cavar, e saiu pelo mundo afora a procura da grande pedra redonda à beira de um rio caudaloso embaixo da qual encontraria o grande tesouro.
Andou. Andou. E andou. Perguntou pra um. Perguntou pra outro. Onde ficava a tal a pedra? Ninguém sabia. Alguns pensavam que aquele sujeito fosse lelé da cuca. Mas só pensavam não diziam nada.
Depois de ter percorrido muitos e muitos quilômetros; passado muitos e muitos lugares sem encontrar a grande pedra; seu dinheiro já praticamente no fim, caminhava ele desanimado por uma estrada deserta, quando cruzou com um homem muito estranho que vinha pela mesma estrada, mas em sentido contrário.
Era bem alto e magro. A cara era azulada. Os olhos fundos. O nariz curvado parecia um bico de gavião. A boca enorme, banguela, os dentes restantes bem amarelos. Talvez ele tivesse caído e batido de cara no chão porque na testa apareciam dois galos um tanto pontudos, um de cada lado da testa. Andava no chão duro pedregoso sem calçado. E os pés eram bem esquisitos. Davam a impressão de não ser pés humanos. Pareciam deformados como se fossem cascos. Usava uma capa preta que cobria todo o corpo; na parte traseira era gozado, a capa ficava meio levantada.
Sem que José nada falasse o estranho desconhecido lhe dirigiu a palavra dizendo que sabia onde ficava a pedra redonda que ele procurava e passou a explicar detalhadamente para José o caminho para chegar até lá. Terminou suas explicações não disse mais uma palavra e continuou sua marcha. José meio apalermado com o ocorrido se virou para dirigir a palavra ao homem e ficou apalermado inteiro. Ele tinha desaparecido.
José ficou em dúvida se acataria ou não a orientação do estranho. Concluiu que valia a pena arriscar e seguiu pelo caminho indicado. Andou certo tempo e encontrou um grande rio caudaloso. Ficou animado. Caminhou pela margem do rio mais um pouco e de repente seu coração disparou. Avistou a grande pedra redonda.
Correu em sua direção e começou a cavar. Cavou, cavou, cavou. Em toda a volta. Uma vala bem funda. Cavou mais. Mais fundo. Mais fundo. E nada de tesouro. Cavou até alta noite quando exausto não tendo mais forças desmaiou de sono.
Teve então outro sonho. No sonho aparecia uma árvore enorme, alta, com um tronco bem grosso. Numa parte do tronco tinha um buraco e lá dentro um mapa do esconderijo de um grande tesouro.
José acordou sobressaltado com o sol batendo em sua cara. Passou a recordar o sonho. Lembrou que bem do lado de sua antiga marcenaria tinha uma árvore igualzinha a do sonho. Afobado arrumou suas tralhas e partiu rapidamente para casa.
Chegou em casa ao entardecer. A esposa e os filhos o receberam com muita alegria. Todos estavam ansiosos com a sorte dele. A esposa também estava preocupada porque o dinheiro tinha acabado, só restava um pouco de mantimento, e ela não saberia como fazer para alimentar os filhos. Ainda bem que o marido tinha voltado a tempo trazendo o tesouro.
José não quis perder tempo com explicações supérfluas para a mulher. Descarregou a bagagem e sem mais delongas rumou para a antiga marcenaria. Ao lado lá estava a magnífica árvore tal qual a do sonho. E numa parte do tronco o buraco. Meteu a mão no buraco e apalpou um pedaço de papel. Seu coração disparou ainda mais forte do que quando avistou a enorme pedra redonda. Apesar da pouca luz do entardecer foi capaz de ler o que estava escrito. Para sua surpresa não era um mapa. Era um bilhete:
José, você tinha um bom trabalho, não ganhava fortunas, mas era um trabalho honesto que permitia a você e a sua família viver bem. Motivado por um sonho de ambição abandonou tudo o que já tinha conseguido com sacrifício e partiu para realizar seu desejo de mais conquista. Seu sonho ambicioso virou pó. A felicidade estava bem junto de você, em suas mãos, e você deixou que ela escapasse entre os dedos. Agora se você quiser voltar a sua vidinha simples de antigamente terá de recomeçar do zero. Boa sorte!



(do livro “54 histórias que minha avó contava na kombi”)

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