Era uma vez um marceneiro de nome
José. Ele vivia numa cidadezinha bem longe lá no meio do mundo. Tinha uma
esposa que gostava muito dele e dois filhos que eram muito bonzinhos. A família
morava numa casa pequena, mas bem construída e era casa própria. Tinham
comprado com financiamento e já estava paga. José tinha sua marcenaria ao lado
da casa. Não era uma marcenaria grande, mas era bem montada e tinha uma boa
freguesia. A família vivia com simplicidade, sem luxo, mas era uma vida decente
e em paz.
Uma noite, José teve um sonho
muito estranho. Quando ele acordou contou para a esposa o sonho. Tinha sonhado
com um tesouro escondido embaixo de uma grande pedra redonda à beira de um rio
caudaloso.
Ele disse à esposa que ia sair em
busca do tesouro sonhado. Quando ele o encontrasse ficaria rico.
A esposa ponderou que ele não
devia fazer aquilo. Eles viviam bem. Uma vida modesta, mas eram felizes.
José não deu ouvidos à esposa. No
mesmo dia fechou a marcenaria. Nem acabou as encomendas em andamento. Seus
clientes ficaram na mão. Vendeu suas máquinas e ferramentas por um preço bem
baixo para vender rápido. Deixou um pouco de dinheiro com a esposa. Guardou
para si o restante do dinheiro numa carteira. Numa mala, arrumou objetos
pessoais, uma pá e uma picareta para cavar, e saiu pelo mundo afora a procura
da grande pedra redonda à beira de um rio caudaloso embaixo da qual encontraria
o grande tesouro.
Andou. Andou. E andou. Perguntou
pra um. Perguntou pra outro. Onde ficava a tal a pedra? Ninguém sabia. Alguns
pensavam que aquele sujeito fosse lelé da cuca. Mas só pensavam não diziam
nada.
Depois de ter percorrido muitos e
muitos quilômetros; passado muitos e muitos lugares sem encontrar a grande
pedra; seu dinheiro já praticamente no fim, caminhava ele desanimado por uma
estrada deserta, quando cruzou com um homem muito estranho que vinha pela mesma
estrada, mas em sentido contrário.
Era bem alto e magro. A cara era
azulada. Os olhos fundos. O nariz curvado parecia um bico de gavião. A boca
enorme, banguela, os dentes restantes bem amarelos. Talvez ele tivesse caído e
batido de cara no chão porque na testa apareciam dois galos um tanto pontudos,
um de cada lado da testa. Andava no chão duro pedregoso sem calçado. E os pés
eram bem esquisitos. Davam a impressão de não ser pés humanos. Pareciam deformados
como se fossem cascos. Usava uma capa preta que cobria todo o corpo; na parte
traseira era gozado, a capa ficava meio levantada.
Sem que José nada falasse o
estranho desconhecido lhe dirigiu a palavra dizendo que sabia onde ficava a
pedra redonda que ele procurava e passou a explicar detalhadamente para José o
caminho para chegar até lá. Terminou suas explicações não disse mais uma
palavra e continuou sua marcha. José meio apalermado com o ocorrido se virou
para dirigir a palavra ao homem e ficou apalermado inteiro. Ele tinha desaparecido.
José ficou em dúvida se acataria
ou não a orientação do estranho. Concluiu que valia a pena arriscar e seguiu
pelo caminho indicado. Andou certo tempo e encontrou um grande rio caudaloso.
Ficou animado. Caminhou pela margem do rio mais um pouco e de repente seu
coração disparou. Avistou a grande pedra redonda.
Correu em sua direção e começou a
cavar. Cavou, cavou, cavou. Em toda a volta. Uma vala bem funda. Cavou mais.
Mais fundo. Mais fundo. E nada de tesouro. Cavou até alta noite quando exausto
não tendo mais forças desmaiou de sono.
Teve então outro sonho. No sonho
aparecia uma árvore enorme, alta, com um tronco bem grosso. Numa parte do
tronco tinha um buraco e lá dentro um mapa do esconderijo de um grande tesouro.
José acordou sobressaltado com o
sol batendo em sua cara. Passou a recordar o sonho. Lembrou que bem do lado de
sua antiga marcenaria tinha uma árvore igualzinha a do sonho. Afobado arrumou
suas tralhas e partiu rapidamente para casa.
Chegou em casa ao entardecer. A
esposa e os filhos o receberam com muita alegria. Todos estavam ansiosos com a
sorte dele. A esposa também estava preocupada porque o dinheiro tinha acabado,
só restava um pouco de mantimento, e ela não saberia como fazer para alimentar
os filhos. Ainda bem que o marido tinha voltado a tempo trazendo o tesouro.
José não quis perder tempo com
explicações supérfluas para a mulher. Descarregou a bagagem e sem mais delongas
rumou para a antiga marcenaria. Ao lado lá estava a magnífica árvore tal qual a
do sonho. E numa parte do tronco o buraco. Meteu a mão no buraco e apalpou um
pedaço de papel. Seu coração disparou ainda mais forte do que quando avistou a
enorme pedra redonda. Apesar da pouca luz do entardecer foi capaz de ler o que
estava escrito. Para sua surpresa não era um mapa. Era um bilhete:
José, você tinha um bom trabalho,
não ganhava fortunas, mas era um trabalho honesto que permitia a você e a sua
família viver bem. Motivado por um sonho de ambição abandonou tudo o que já
tinha conseguido com sacrifício e partiu para realizar seu desejo de mais
conquista. Seu sonho ambicioso virou pó. A felicidade estava bem junto de você,
em suas mãos, e você deixou que ela escapasse entre os dedos. Agora se você
quiser voltar a sua vidinha simples de antigamente terá de recomeçar do zero.
Boa sorte!
(do livro “54 histórias que minha avó contava na kombi”)
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