quando
um deus verdadeiro
se torna incapaz de me socorrer
e o diabo astucioso com disfarçado desprezo
me atrai para seus múltiplos templos
onde cultos profanos me ludibriam
quando
em meus ouvidos moucos
o passado se transforma num eco mudo
referência nula para um presente pobre
semente infértil para um futuro estéril
quando
as maravilhosas humanas conquistas
com seus duvidosos amplos benefícios
são fonte borbotoante de angústias insondáveis
resultantes de meus desejos questionáveis
em busca de vãos prazeres insaciáveis
quando
protegido pelo escudo de bastarda liberdade
o poder concentrado em minhas mãos privilegiadas
serve para que eu plutocrata ali mais me locuplete
alimentando a insuperável miséria insuportável de tantos
quando
minha irrefreável milenar ganância mais e mais
descontroladamente crescente na linha do tempo
a ponto de se aproximar da desmesura irresponsável
passa a ameaçar de destruição a própria vida
talvez
fosse a oportunidade rara para eu
deixar de lado ao menos por instantes
as ambições as espertezas as vaidades
invariavelmente infiltradas em minhas ações
as telas da televisão do computador do celular
nas quais abduzido me reflito cotidianamente
talvez
despojado de arraigada arrogância
nu em minha limitada humana condição
refletido no âmago de mim mesmo
devesse tentar refletir sobre a possibilidade
de ser apenas um ser humano
pequenina parte fragmento frágil
abandonado na solidão de um todo
infinitamente maior universal
um ser para o qual uma existência
simples e decente
é necessária mas é também
mais do que suficiente
talvez
assim pudesse encontrar a trilha utópica que
me levaria perto da tão almejada felicidade
quem sabe