domingo, 30 de janeiro de 2022

Presto

necessitava de inspiração
para encontrar a invenção
da palavra certeira
seta
sopro de um vento 
libertador 
alento 
que faz tudo parecer saudável
ao fazer tudo correr
em miríades de pés de vento
mensageiros do escárnio necessário
para atravessar os pântanos tantos
de um mundo enfermo e ruim 
portador da propriedade de 
jamais poder ser 
compreendido em profundidade
e onde o reinado do perdão 
carece de impossível transfiguração 
e talvez seja um pouco tardio
querer refletir sobre eventuais
melhores maneiras 
de suportar a vida
no leito de morte

domingo, 23 de janeiro de 2022

Poema peculiar

Pé na estrada gente urgente pra outro planeta mais cedo
Cu quem tem tem medo
Li foi em algum lugar
Ar tal qual água está pra acabar

domingo, 16 de janeiro de 2022

Pintinho no ninho

era uma vez

um pintinho preguiçoso

que passava o tempo todo

dormindo em cima de um 

saco velho amarfanhado


não havia jeito 

do pintinho querer sair

daquele ninho malfeito


todo dia bem cedo porém

sem mais nem menos

aparecia por ali na cama 

uma fada madrinha

muito da boazinha que

com sua varinha encantada

plim

batia bem no meio da 

cabecinha do vagaroso


o pintinho pachorrento

na mesma hora acordava

abria os olhinhos remelentos

espreguiçava sem pressa alguma

ia meio matreiro até o banheiro

erguia a tampa da privada e dava uma

bela e sonora mijada


depois voltava pro seu remanso

continuando a repousar aconchegado 

em cima do saco velho amarfanhado

sem se preocupar com mais nada


e assim terminou esta história sem graça

do pintinho preguiçoso porém boa-praça pois 

ao urinar não esquece

de levantar a tampa da privada

 

domingo, 9 de janeiro de 2022

Serena serenata ao sereno

cansei de cantar tanta canção

insistindo em apontar apuros 

meu pulmão

quando assim expira aparenta soar desatino puro

doravante vou cultivar videira

produzir só vinho de primeira

predileção perene apenas por casta nobre

esmagada com os pés em tina de cobre

deitado na taça 

não bruto mas com graça

nele o olvido seja ledo 

ao destino cedo

sei não saber ser infenso ou avesso ao cantar meus ais 

mormente banais

versejo chinfrim 

uma rosca sem-fim

vinicultura há de me dar algum tino na tina enfim

aproveito a oportunidade pra declarar

que finalmente estou aprendendo amar

minha professora não uma pessoa qualquer

mas uma senhora mulher

mandei até fazer uma nova dentadura

perfeita dama clareou minha vida escura

meu sal na medida certa

adeus horas incertas

debaixo da sua janela pra ela farei serenata 

com sanfona violão violino e fagote


domingo, 2 de janeiro de 2022

Fairwell melancholic new year

                e vem uma insana ânsia de querer discorrer sobre tão frágil matéria cujo destino é definhar e morrer quando na verdade a vontade deveria ser açoitar o espírito comprimido pelas curtas arestas das paredes deste quarto para ir em sentido oposto

                por ora abrandou o tumulto de ontem mas nos ouvidos ainda ecoam os uivos da multidão desesperada atrás de destroços para consumir a qualquer preço e depois viajar e depois se amontoar e de novo consumir e retornar de onde partiu 

                o mal está em toda parte e diante dele nos vergamos com um desejo irrefreado de cingi-lo apertado nos braços e a ele oferendar flores porém momentaneamente exibimos na cara um arremedo de fraternidade porque  

                ao bem somos naturalmente hostis 

                e no transcorrer das horas dos dias dos meses enveredamos por convulsas vias formando nossos bandos estreitos e com isso da essência da vida deixamos que sequem as raízes