domingo, 29 de setembro de 2019

Saturno

soturno seu turno
em torno do sol
embora distante
não o bastante
suficiente pra cobrir
com manto de chumbo
os tempos pra sempre dos medos
que levam os dedos
e deixam os falsos anéis
pro mascateio no mundo mercado
buraco escuro sem fundo
por nós ambulantes
arrogantes fantoches 
merecedores de todo deboche
nesta dança macabra
aos acordes infernais
que movem os cordéis

domingo, 22 de setembro de 2019

Vinda posterior

no tempo que se amarrava cachorro com linguiça e
se transportava água em canais apoiados em pórticos
vinho tinto já trazia benefícios ao corpo e ao espírito
relâmpago clarões no céu bastante atemorizadores

surgiram as metrópoles cada vez mais e mais verticais
muitos altares foram abandonados sobre outros pilares
o ser humano quis ser suportado agora talvez seja tarde
pra se voltar atrás solução só novo derrame de basalto

narciso necessita lago tranquilo onde possa se espelhar
são singulares os carros alegóricos da escola pública nas
particulares os pais preferem pros filhos não se misturar
a grade curricular da penitenciária prevê ensino de assalto

o acórdão não se coaduna com os acordes do vento nas dunas
comendo de marmita estranho ser apenas sargento e opulento
na favela do alemão é normal os dissabores vir em várias cores
e os transeuntes nem ligam mais pro presunto lançam olhares

curiosos destilam curiosidades menos amenas nas volúpias
expostas publicamente no jornal das dez as pessoas calmas
seguem em manada na busca de um meio de ficar inteiro
uma vez que o número de vagas está destinado aos amigos

do presidente previdente mandou libertar muitos escravos
formou exército de maltrapilhos pilhados em maus odores
o suor escorrendo aos montes pela fronte é sinal de sol
brilhando no horizonte os pobres de bolso batem palmas

movidos por ambição desenfreada a cambada solta o freio
de mão deixa o caminhão despencar na banguela decifrar
o segredo não será preciso preciso ser pouco mais preciso
ou não sei lá devagar com o andor que o santo sente dor

domingo, 15 de setembro de 2019

Entardecer

quem dera enxugasse o suor da testa
ao fim de mais um dia de trabalho honesto
para sentir o sossego natural e justo
que deve estar na alma de quem é limpo
e fosse feliz e triste ao mesmo tempo
sorrindo vagamente melancólico
fingindo compreender aquilo que sente

e acreditasse em mim como ser sincero
para olhar dentro de mim e enxergar
uma coisa certa e reta e estar de acordo
comigo sem subterfúgios mas não consigo
pela simples razão de ser um ser humano
padrão e de mim por causa disso sinto pena

então desço os olhos para o chão e os
deixo fixados num ponto indefinido
e os pensamentos se acham perdidos
em desalentos enquanto lentamente
o anoitecer vai escurecendo o ambiente

domingo, 8 de setembro de 2019

Cada vez mais pior

cidadãos de bens têm o direito
para o benefício de seus negócios
de uma reserva prudente contra perdas inesperadas
na proporção de seus patrimônios
a juros legítimos e moderados
quando assim lhes for conveniente
frisando-se que não são tolerados
quaisquer tipos de privilégios especiais
apenas os de praxe quais sejam habituais
esse princípio basilar do sistema capital
se aplica a indivíduos e a companhias
não tanto públicas mas particularmente privadas
cujos detalhes podem ser postos em consideração
para o pleno esclarecimento dos interessados
a fim de que não paire a menor sombra de dúvida
quanto ao inegável bem trazido à sociedade
como um todo resultante de tal medida
com o que hão de concordar até os mais céticos
ficando a maioria ou quase satisfeita com a criação
do mencionado modo de adiantar dinheiro
público para o setor privado todavia tantos
com dinheiro abundante não o empregam
em negócios geradores de emprego
permanecendo milhões sem trabalho efetivo
diminuindo o potencial exploratório do mercado
além de que cada vez mais menos querem trabalhar no campo
porque afinal não é nada fácil sempre caminhar ao sol
dia após dia entra ano sai ano vendo brotar só erva daninha 
e sabendo que tudo isso não é mais do que bem pouco
mesquinharia

domingo, 1 de setembro de 2019

Dos quintos globais

viver com siso
é o que me falta
sequer tenho o dente
agora
precisão das fórmulas
matemáticas
por favor me poupem
vamos parar com tal ridículo
das parlengas poéticas não
faço a menor ideia do que fossem
eu jamais falei versos sempre falho
frente e verso não nego são fatos
entrementes não minto
se eu falo
“A”
podem crer
eu queria dizer “b”
mas se eu falo
“B”
acreditem
seria tão bom se soubesse
o que bê quereria dizer