domingo, 31 de dezembro de 2017

Entranhas

desapega da superfície
verniz opaco desgastado
abandona o falso aparente
máscara de mil faces colada à cara

adentra as entranhas
poço escuro
chega ao fundo
âmago amargo

invade as entranhas
perscruta as entranhas
remexe as entranhas
estranhas as entranhas?

bamburra as entranhas
separa a ganga
elimina o estéril
colhe o ouro tão raro

domingo, 24 de dezembro de 2017

Drama caipira

não da imortal tragédia clássica
em remoto tempo
nas longínquas terras tebanas acontecida
tratam estes versos mas
sim de perecível comédia caipira
em tempos atuais
nas vizinhas terras taubateanas imaginado
porém aqui trama semelhante
àquela distante segue adiante

nos primeiros capítulos da novela
o antigo chefe qual laio a história revela
perdeu o posto de comando esse último
abatido ao cruzar perigoso desfiladeiro
por abandono de cargo o primeiro
nada tem ele a reclamar que fique claro
coube ao infeliz final merecido
o oráculo para ele foi cumprido
todos reverenciam agora
o novo chefe empossado

entretanto para se saber o desfecho deste drama
é preciso acompanhar o prosseguimento da trama
mais dia menos dia deverão ser revelados
os destinos do édipo tupiniquim
e da moderna nada casta jocasta enfim

domingo, 17 de dezembro de 2017

De re metallica

há dias como metal líquido
fluindo ligeiro que preenchem
todo o molde das horas sem falhas

outros como metal amolecido
ao fogo dos fatos que forjam
em persistente tarefa a passagem do tempo

e há aqueles como duro metal
submetido ao incessante frio martelar dos ponteiros
que se vão encruando a ponto de querer arrebentar

domingo, 10 de dezembro de 2017

Corpo

pele
sobre a carne
carne
sobre o osso
osso
fosso de mim
estrutura dura
cerne do soma

cérebro
novelo convulso
caos pastoso de nervos
desordem de anseios
fonte de prazer e dor
poço de ideias
estrutura mole
cerne do sema

soma com sema
corpo vivo
pasto de vermes

soma sem sema
corpo morto
antepasto de vermes

domingo, 3 de dezembro de 2017

Clichê

ao amor não cabe medida
é coisa incontível incontida
já ensinou o poeta maior que amor
é ferida que corrói curando salva matando

amor que é amor faz gemer sem causar dor
e extravasa e reprime e solta e abafa o grito
dá a vitória sempre ao perdedor
ignora os limites do infinito

amor tem horror a preconceitos preceitos conceitos
amor que é amor é pra ser aceito de qualquer jeito
só recomenda nunca se deixar de lembrar
viver sem amar é viver para salgar o mar