domingo, 26 de junho de 2022

Vou embora pro planalto

vou embora pro planalto

pra praticar assalto

sob as aparências da lei

e aí ter uma vida de rei


pra ficar muito bem blindado

nas artimanhas da contravenção

contratarei caríssimos advogados

que sabem de cor a constituição


no planalto não é preciso dar duro

porque é outra civilização 

lá tem processo seguro 

de partilhar a corrupção 


de suar a camisa fiquei até o pescoço

decidi agora ter um padrão de nobre

com muita grana fácil no bolso

fazendo de conta ser amigo de pobre


reuniões de terno caro e gravata

pra esquematizar maracutaias

conchavos bem producentes 

pra mim e pros meus parentes


carro de luxo do ano com motorista

guarda-costas e alto padrão de moradia

tudo de graça além de outras mordomias

minha meta é também gozar de tais conquistas  

 

desfrutarei a mamata que mereço

passarei a andar de salto alto

esquecendo os tempos de tropeço

já estou de malas prontas meu destino é o planalto


domingo, 12 de junho de 2022

Vida dissipada

espectro portando uma máscara com aspecto de rosto humano

se achando cheio de sagacidade abriga uma alma coberta de lama 

ser sórdido prepotente arrogante sob circunstâncias favoráveis 

fomentadas mediante ardilosas incursões 

amparadas no uso e abuso da dissimulação

aduba diligentemente o solo da indigência

cultiva o repúdio à probidade para colher benefícios egoístas 

exclusivismo que valoriza a imediatez e inviabiliza a equidade

caminha pela escuridão moral a passos largos sem precaução 

todavia frente aos enganos inevitavelmente surgidos em seu caminho

conta com a proteção de costumeira aliada

a plutocracia

poder maior da humanidade 

domingo, 5 de junho de 2022

Vitória verdadeira

vai nesta vivência

despistando como possa 

as piores desavenças

o azar cuspe na tosse

evita desnecessário atrito

é temente do destino 

não esquece o livre-arbítrio


perdido no meio da gentarada

a riqueza não discerniu sua presença

não sendo porém de não fazer nada 

de sol a sol suou a camisa desde menino

pra alcançar condição de viver decente

filhos diplomou como manda o figurino 

no frio dorme em cama quente 

no prato comida com sustança 

 

não esquece que um dia

já foi cão sem dono 

abrigado em enxovia

deitava no abandono

da enxerga em que chovia

disfarçava a fome avara

catando papel pelos lixos da cidade

sorriso permanente pregado à cara

logrou se aprumar já com certa idade

sem antes contudo

em ponta de faca dar muito murro