domingo, 30 de julho de 2023

Inseparáveis

não cessa a publicação dos proclamas

do casamento da alegria com o triste

eterna união destinada às chamas

da mundana vaidade que persiste

domingo, 23 de julho de 2023

Bicho papão

cadê o céu azul limpinho que estava aqui

o homem bicho fez fedorento cinza fumarento

que bafeja calor calcinador do planeta 


cadê a floresta verdinha viçosa que estava aqui

o homem bicho fez pasto pra bife comedor de capim

que aniquila vidas valiosas da flora e da fauna nativas 


cadê o rio caudaloso piscoso que estava aqui

o homem bicho fez putrefato esgoto

que assombra a saúde e a sede da gente


cadê o homem humano que devia estar aqui

o homem bicho comeu... 

domingo, 16 de julho de 2023

Nos conformes

exercita a preguiça no balanço da rede
enquanto o tempo passa pela vidraça 
do apartamento de 30 metros que habita

pros outros apertos inventa bamboleios  
para driblar veículos aflitos sem freios
viaja nos trilhos do trem metropolitano 

embora seja preciso moral flexível
em particular nos horários de pico 
o que é praticamente impossível

quotidiano há anos roendo osso
vida bamba corda tesa no pescoço
coração de tripa pra evitar o crime
todavia tem hora falta pulso firme

dança samba pagode
valsa tango e bolero e
tolera encheção de saco 
caso lucre com o caso

pretende ir tocando a lida
sem muito aborrecimento
fazendo de conta
estar satisfeito da vida

domingo, 9 de julho de 2023

No mundo do faz de conta

agora vamos brincar de era uma vez

esquecer as infaustas horas soturnas

e estampar arremedo de alegria na tez

lugar comum de expressões taciturnas

 

pensemos em nossa boa educação e excelente saúde

por podermos beber da fonte da eterna juventude

 

por respirar só saudáveis ares marítimos

dançar no embalo de agradáveis ritmos

 

ouvir sempre o som da mais bela cantiga

fazendo de conta que somos gente amiga


domingo, 2 de julho de 2023

No fim da tarde

longe vai a alvorada 

momento sublime do renascer da luz

fugidia ilusão de nova esperança 

para além do inalcançável


a alegria sempre tão esquiva 

dá lugar às eminências do sofrimento

teimoso em ficar bem próximo

para o assalto do peito no fundo


pensamentos sem começo nem fim

se misturam ao rodopio do vento

que sacoleja a vidraça do quarto 

anunciando a vinda da tempestade