domingo, 30 de dezembro de 2018

Happy new year please

jesus
já deu jingle bells de novo
jeans
roto nos joelhos de fábrica
presente de papai noel
todos os ditos ainda vivos
ficamos um ano mais velhos
de novo
velho não valho nada
é tudo
que tem a dizer babaca
algum dia será vali
sei que dei
bastante vale
refeição
pra qualquer coisa que fosse
vai dezembro vai xô
vem janeiro vem
fevereiro e março 
april in paris
new york in december
again
engole mais um
outro e mais outro
o peru gluglu está quase pronto
não deixa passar do ponto
vai dar pra todo mundo
não óbvio que não
só se for de pica grossa
cruzes nossa
o resto depois eu conto
se houver tempo
nove oito sete seis cinco quatro três dois um
zero
mãos ao alto
oremos
brindemos
depois
bom só na roda da boa fortuna
que deus nos proteja
pelo menos em parte
a parte que nos cabe
é claro
serve champanha saltão demi-sec
sirvo
então
cheers

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Feliz Natal

rola pela inóspita encosta
da ética
ribanceira abaixo
a moral

mandatário o mercado
sob a tutela do capital
pouco valor têm o bem e o mal
quem estiver fora está ferrado

rodam as estações no tempo inexorável
ronda o pressentimento
apesar das aparências em contrário
que as coisas vão de mal a pior

murcha mais uma árida primavera
passa a gotejar o suor
sob o sol escaldante
de outro verão sufocante

cobertos de pedra os caminhos
orlados por espessa erva daninha
conduzem pra profundo precipício
vastidão do tripúdio ao estropício

surpreendida a alma por gélido sopro
arfa um instante depois imóvel se cala
braço invisível na voragem põe o corpo
matéria perecível do sentir não sabe a fala

mesmo quem quer se soltar da terrível teia
tendida sobre a cabeça se esgarça nutante
entre recusar ou assentir em ceder a veia
para vampiros o sangue sugar radiantes

chegam aos confins do mundo
os ares mais insalubres
todo recanto tem um canto imundo
a situação é cada vez mais lúgubre

pela fresta do ralo da pia
furtivamente
baratas apreciam a lua cheia
brilhando alta no céu

um dia todos vamos pro beleléu
mas por ora é hora de festa
assim alegres ainda que breve
riamos até o raiar do dia

domingo, 16 de dezembro de 2018

PT 14 - alternativa é sair para a rua

alternativa é sair para a rua
enfrentar sua crueza nua
ingenuamente
imaginar afastar a melancolia
correndo atrás de mercadorias
os muros sujos pichados
o lixo espalhado
a lama a lama
o rio transbordado
o fedor as fezes
sentir nojo enjoo
vomitar sobre a cidade
a cólica a cueca borrada
o assalto o sequestro
o tiro a morte
a polícia
milícia propícia
aos crimes
esperança perdida
em tempo de injustiça
o tráfego o tráfico
trêfego trófico
curtição da ração diária de erro
voltar para casa
salvo-conduto
ilusão da segurança
das cercas elétricas
lentamente
a mão trêmula esfregar a cara
forma insegura tentativa inútil
de arrancar o tédio lhe dar um fim
justamente
a melhor parte de mim

domingo, 9 de dezembro de 2018

PT 13 ─ sob a pele de parvas palavras

sob a pele de parvas palavras
se escondem códigos cifrados
mal usados por eles por mim
pretensamente poetas estafetas
entrementes do tipo chinfrim
rigorosamente uns caras de pau
pra tentar soletrar o mundo imundo
já inundado de tantos poemas maus

domingo, 2 de dezembro de 2018

PT 12 ─ amiga estou inebriado pela voz

amiga estou inebriado pela voz
que sai desta tua matraca
ah! se tivéssemos a sós...
francamente não sei se é boca ou cloaca

quando se abre lançando petardos
que explodem em meus ouvidos
estarrecido aqui fico no aguardo
implorando que cesse o zumbido

minha casa de veraneio na praia
comprada com tanto sacrifício
com a separação ficou pra lacraia
até o fim só me causou malefício

pelo menos agora estamos distantes
graças a deus me sinto menos aflito
desejo que mesmo sob sol escaldante
o ar sobre ela se anuvie de mosquito

não me creio digno sequer de pensar
no que meu saudoso pai cansou de dizer
com essa jararaca filho não deves casar
ouve minha advertência tu vais se foder

porém tapei os ouvidos pro sábio conselho
fui estúpido falei pra ele não meter o bedelho
mas a união nascia alimentada com o fermento
da discórdia causadora de todo meu desalento

dei tudo de mim e sempre estava no fundo
vivia meditabundo na iminência do fim
tentei um lance arriscado fiquei petrificado
traição era tarde pro meu coração covarde

assim me esvaziei de mim
como um objeto abjeto
dejeto lançado no esgoto
tratado como um cara escroto

inútil destroço atirado no abismo
fosso escuro pra curtir acritude
se fosse minha maior virtude
o cinismo