domingo, 29 de dezembro de 2019

Fatalismo

fracote aquele que chora
fingindo ter desencanto
as lágrimas inúteis de agora
farão falta pro futuro forçoso pranto

frívolo quem se deixa levar por ardente
desejo infiel mero sentimento vão
a esparsa volúpia hoje fantasia quente
mais adiante trará frigidez ao coração

fútil matraca eu falando até a voz ficar rouca
não adianta se você fica o bicho come se corre
ele pega melhor talvez se fechasse minha boca

fundo e escuro é o fim quando se morre
antes porém é preciso viver
ainda que se tenha de sofrer

domingo, 22 de dezembro de 2019

Húmus poético

parcas estas raízes minhas buscam versos em terra árida
sob o implacável asfalto escalavrado de remendo e buraco
sobre tantas tortuosas vias que correm tontas desenfreadas
entre logradouros abandonados desta tão triste megacidade

com assombro deparam intricada rede de terríveis tubulações
em competição acirrada por espaço subterrâneo escasso o aéreo 
ali implantadas com jeito assim meio que um tanto caótico
por laboriosas minhocas mecânicas comandadas por gente humana

múltiplas são as finalidades pretendidas com tão ardiloso esquema
levar rala água dita tratada a partir do esgoto que corre em tubulação
ao lado para torneiras privilegiadas a lares e bares espalhados pela cidade

também miríade de fios para conduzir elétrons promotores de diversão
comunicação imprescindível iluminar aquecer agitar eletrodomésticos
saudade do cheiro bom de terra úmida depois de uma chuva honesta

domingo, 15 de dezembro de 2019

Gente

gente gente gente tanta gente cada vez mais
que passou que passa que vai passar cada vez mais
em suas particulares viagens coletivas semelhantes cada vez mais
em suas diversidades se avoluma o amontoado cada vez mais
de gente frenética atolada em palpitantes problemas cada vez mais
estatísticas oficiais apontam sinais de melhoras cada vez mais
fracos a longo prazo o ruído saído das turbinas ensurdece cada vez mais
moucos ouvidos da civilização rangendo dentes cada vez mais

domingo, 1 de dezembro de 2019

Ilusão

pretendemos conquistar todo o mundo
desvendar seus mais recônditos segredos
abrir caminhos pelos mais perigosos destinos
e somos sem perceber criaturas tão frágeis

somos sem perceber criaturas tão frágeis
mas capazes de provocar muita destruição
destruição para alcançar e manter poder
justificar a construção do bem felicidade

justificar a construção do bem felicidade
com palavras mal ditas de dedo em riste
ridículo apontar defeito no que não tem jeito
juntar os pedaços do que jamais foi inteiro

juntar os pedaços do que jamais foi inteiro
solitária solidariedade acreditar em utopia
senão ao menos na ingenuidade da magia
de suportar unidos o mal que não será desfeito