em um instante se nasce
em um instante se morre
entre esses dois instantes
uma sucessão de instantes
bastantes para passar uma vida inteira
antes mergulhado em amorfa escuridão
de repente em primeira mão
vir à tona e inquietantemente se sentir
com um modo arrebatado de se reconhecer
e supor compreender o sentido próprio de tudo
pretendendo se tornar o próprio sentido de tudo
como se alguma coisa parecendo dizer alguma coisa
provocasse o desvelar de seu obscuro significado
como se o futuro estivesse ali todinho definido
e houvesse autonomia para decidir
ser aquele e não outro o destino
como se uma lei obrigasse haver
consciência de estar vivendo
depois mergulhar de novo na escuridão
restando apenas talvez o sentimento
da inutilidade de ter emergido