somos todos iguais
não não somos todos iguais
como podemos ser iguais um ao outro
se nem mesmo o eu que eu sou agora
não é mais igual
ao eu que eu era minutos atrás
logo de manhã ao despertar estava feliz da vida
por ter feito também feliz uma amigo visceral
meu velho intestino grosso
que todo dia já bem cedo quer se ver livre
das sobras do jantar da noite passada
e solicita que eu deposite esse subproduto
no vaso sanitário do banheiro do apartamento
depois fiquei tenso apreensivo
ao pensar nas contas que tenho de pagar
enquanto fazia a barba espantado
olhando no espelho feito um babaca
esta cara cada dia mais de bruaca
agora estou aqui frente à tela deste computador
sofrendo suando penando pra tentar alinhavar
as parcas palavras deste inútil poemelho pentelho
em que procuro mal dizer sem me desdizer
que não não somos absolutamente todos iguais
cada um é cada um
e como acabei de escrever
mesmo esse um não é um mas muitos uns
quem disser – todos devíamos ter o mesmo salário
ou é um bom salafrário ou é um grande otário
a ideia de acabar com a propriedade privada
que me desculpem os comunistas
não merece outro destino que a privada
pública ou privada
mas uma coisa se pode afirmar com convicção
embora não seja simples resolver a questão
não é justo alguém ter renda mensal de milhão
e tantos nem ter dinheiro prum mísero pão
é intolerável haver habitações das mais belas
e uma cacetada de promíscuas favelas
porque se não somos todos iguais
também não podemos ser tão desiguais