domingo, 21 de maio de 2017

Égalité fraternité


somos todos iguais

não não somos todos iguais

como podemos ser iguais um ao outro

se nem mesmo o eu que eu sou agora

não é mais igual

ao eu que eu era minutos atrás

logo de manhã ao despertar estava feliz da vida

por ter feito também feliz uma amigo visceral

meu velho intestino grosso

que todo dia já bem cedo quer se ver livre

das sobras do jantar da noite passada

e solicita que eu deposite esse subproduto

no vaso sanitário do banheiro do apartamento

depois fiquei tenso apreensivo

ao pensar nas contas que tenho de pagar

enquanto fazia a barba espantado

olhando no espelho feito um babaca

esta cara cada dia mais de bruaca

agora estou aqui frente à tela deste computador

sofrendo suando penando pra tentar alinhavar

as parcas palavras deste inútil poemelho pentelho

em que procuro mal dizer sem me desdizer

que não não somos absolutamente todos iguais

cada um é cada um

e como acabei de escrever

mesmo esse um não é um mas muitos uns

quem disser – todos devíamos ter o mesmo salário

ou é um bom salafrário ou é um grande otário

a ideia de acabar com a propriedade privada

que me desculpem os comunistas

não merece outro destino que a privada

pública ou privada

mas uma coisa se pode afirmar com convicção

embora não seja simples resolver a questão

não é justo alguém ter renda mensal de milhão

e tantos nem ter dinheiro prum mísero pão

é intolerável haver habitações das mais belas

e uma cacetada de promíscuas favelas

porque se não somos todos iguais

também não podemos ser tão desiguais

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