que queres de mim afinal
vim expurgar o ambiente de tua presença
crueldade
já vais tarde
todavia terei ao menos uma morte digna
tiveste a vida toda para cultivar a dignidade
Você está em: Home » Arquivos de setembro 2020
que queres de mim afinal
vim expurgar o ambiente de tua presença
crueldade
já vais tarde
todavia terei ao menos uma morte digna
tiveste a vida toda para cultivar a dignidade
para satisfazer nosso soberano o capital
é preciso incrementar mais o consumo
independente de todo e qualquer insumo
para que isso aconteça
várias ideias vêm à cabeça
a principal talvez seja a reinvenção do novo
tão logo um novo é reinventado
imediatamente se torna velho
pra ser substituído por outro recém recriado
e em meio a tão angustiante tumulto
ninguém mais é poupado criança moço idoso
desde antes do nascimento até depois do túmulo
o humano faz
o ferro
as máquinas o concreto as megacidades
a ferrugem corroe
o ferro
as máquinas o concreto a solidariedade
o humano inventa
o progresso
o dinheiro o poder a riqueza
a ganância corrompe
o progresso
o dinheiro o poder a honradez
o humano sacramenta
o domínio
o jugo o cabresto
a submissão patrocina
o hábito de ser canhestro
a vida cria
a morte
a morte come
o humano
ser um ser humano
tal qual a natureza
nos fez assim evoluir
embora possa pascer terra fértil
não é nada fácil
ser um ser pensante
que em tudo
procura esgravatar
embora possa merecer louvores
acarreta também dissabores
quanto mais entendemos
os mínimos mecanismos da máquina do mundo
mais estendemos sobre ele nosso domínio
e por gula luxúria preguiça ódio cobiça avareza vaidade
menos respeitamos sua integridade
não importando o risco de causar nosso extermínio
quanto mais explicamos
o máximo de fenômenos do universo
com base em elaboradas teorias
e uso de sofisticadas tecnologias
mais nos damos conta da nossa solidão
e atônitos permanecemos
diante do fenômeno da nossa criação