domingo, 27 de junho de 2021

Salvo-conduto

vou embora pro planalto

pra praticar assalto

tudo dentro da lei 


resolvi criar juízo

fazer o que é preciso

encher o rabo de money 


para maior segurança

de toda essa lambança

parte deste dinheiro

transfiro pro estrangeiro


vou embora pro planalto

chega de sobressalto

quero viver vida de rei


lá terei mansão à beira do lago 

protegido de todo estrago

zombando da pobreza 

a bordo do meu jet ski


gozarei tanta mordomia tamanho privilégio

que francamente minha gente

deveria ser considerado sacrilégio


pra me livrar de eventual contratempo

lançarei mão a qualquer tempo  

de minha impunidade constitucional


vou embora pro planalto

conquistar poder cada vez mais alto

lá estarei livre pro mal legal

lá o ano inteiro é carnaval   

 

domingo, 20 de junho de 2021

Algures

 onde tavas tu jeremias que a mim não vinhas

enquanto eu aqui gemia no chão frio da cozinha 

mastigando a cota diária de espinho a mim reservada

temperada com pitadinhas de paciência e humor 

deglutindo sua acuidade sem pressa para engolir

vivente apreendedor de aflições à míngua de alegrias 

nas recorrentes rebordosas da vida me escorando na ribanceira 

cicatrizes na carne apresento poucas sobejam porém na alma

testemunha medíocre desta mundana algaravia de erros

me vendo quase todo consumido em enganos sob o manto do vexame 

sem negar ter tido muitas vezes coração iracundo apto à vingança

mas que no frigir dos ovos poder afirmar talvez sem extrapolar demais 

ser um ser não temente à maldição por não ter negado arrimo a alguém carente  

muito pelo contrário sentindo primeiro para entender depois

o ridículo da pequenez do socorro recebido em troca do tanto feito pros outros

vai daí quem sabe o aprendizado de criar desapego a pessoas 

ingenuidade querer curar as feridas com mel de laranjeira

quando o corriqueiro ofertado é salada de flor de espirradeira

entrementes debaixo de tantas nuvens carregadas de escuridão 

busco uma nega de luz num fundo azul celeste levado por fogo fraco  

um tanto a certo esmo sem compreensão de mim mesmo com ligeira saciedade

no eco de tantas horas perdidas deixo escapar o passante momento 

comendo na mão da melancolia para um dia pra frente 

lembrar pesaroso do instante presente 

sem ânimo para invejar as bravatas de tantos empoderados 

boto no bolso a saudades e sigo à toa pisando rotas rotas que levam a becos escuros 

fedendo a urina e fezes humanas    

sábado, 12 de junho de 2021

Gratidão

 meus passos só sabem seguir

o caminho que me leva a você 

você que é a vida da minha vida

fonte do meu ser

bálsamo que mitiga as feridas adquiridas em minha jornada

luz que faz meus olhos enxergar o mundo menos sombrio

inspiração para eu ter esperança de haver dias melhores 

força motriz que tira meu corpo da cama cada manhã dizendo

vai vence mais este dia

calmante do meu espírito de noite ao me beijar sussurrando 

durma bem meu amor

e assim a todo instante sinto o desejo de lhe segredar

obrigado querida por me fazer existir   

domingo, 6 de junho de 2021

Vida moinho

bem disse agenor de oliveira

compositor maneirinho

da música popular brasileira 

o mundo é um moinho


na trilha de mestre cartola poeta do povo

tenho o atrevimento

de apor outros pensamentos

sem acrescentar nada de novo


a mofina mó do moinho vida

de cada um desde o primeiro instante

sem piedade nem dó dá a partida 

para o passageiro grão moer incessante


gira que gira tenaz girante roda gira

a semeada semente mói implacável 

reduz pouco a pouco a pó descartável

sonhos conquistas amores vaidades ira


lágrimas risos gritos sussurros alegrias ais

ela tritura e de presente um passado fugaz vai

deixando como mesquinho farelo deteriorado 

a espera do momento de na terra ser lançado