onde tavas tu jeremias que a mim não vinhas
enquanto eu aqui gemia no chão frio da cozinha
mastigando a cota diária de espinho a mim reservada
temperada com pitadinhas de paciência e humor
deglutindo sua acuidade sem pressa para engolir
vivente apreendedor de aflições à míngua de alegrias
nas recorrentes rebordosas da vida me escorando na ribanceira
cicatrizes na carne apresento poucas sobejam porém na alma
testemunha medíocre desta mundana algaravia de erros
me vendo quase todo consumido em enganos sob o manto do vexame
sem negar ter tido muitas vezes coração iracundo apto à vingança
mas que no frigir dos ovos poder afirmar talvez sem extrapolar demais
ser um ser não temente à maldição por não ter negado arrimo a alguém carente
muito pelo contrário sentindo primeiro para entender depois
o ridículo da pequenez do socorro recebido em troca do tanto feito pros outros
vai daí quem sabe o aprendizado de criar desapego a pessoas
ingenuidade querer curar as feridas com mel de laranjeira
quando o corriqueiro ofertado é salada de flor de espirradeira
entrementes debaixo de tantas nuvens carregadas de escuridão
busco uma nega de luz num fundo azul celeste levado por fogo fraco
um tanto a certo esmo sem compreensão de mim mesmo com ligeira saciedade
no eco de tantas horas perdidas deixo escapar o passante momento
comendo na mão da melancolia para um dia pra frente
lembrar pesaroso do instante presente
sem ânimo para invejar as bravatas de tantos empoderados
boto no bolso a saudades e sigo à toa pisando rotas rotas que levam a becos escuros
fedendo a urina e fezes humanas