domingo, 29 de março de 2015

NA PIOR IDADE

Me perguntam, às vezes, por que eu, um velho, avançado na pior idade, diria sem receio de errar um ancião, anseio em fazer regularmente exercícios físicos, musculação, caminhada, alongamento etc. Respondo quase prontamente, cada dia que passa um pouco mais ofegante: “É que eu quero ver se consigo morrer em boa forma física.

(em “Crônicas Anacrônicas – Grotesca Filosofia Mediocridade Sublime” (inédito))

domingo, 22 de março de 2015

APROVEITANDO A CEGUEIRA DELA

Nas justas
Deste mundo injustiçoso
Nada parece mais justificável
Aos injustos
Do que injustiçar
Os justos
E se locupletar com injustiças
Justamente
Por meio da Justiça

(do livro: "Poesia... Afinal pra quê?)

domingo, 15 de março de 2015

Botelho e seu fiel cachorro Altamiro

Não sei se vocês se lembram de um acidente aéreo que aconteceu há alguns anos. Um boeing 777-700 vinha da Itália para o Rio de Janeiro e caiu no Deserto do Saara. Todos os ocupantes morreram carbonizados, exceto um homem que viajava na primeira classe acompanhado de seu cachorro que, num primeiro momento, também sobreviveu. A mídia, na ocasião, deu ampla coberta ao fato durante alguns dias, tudo muito exagerado, tudo muito espetaculoso, grande parte das notícias sem base verídica e depois, como sempre acontece nessas situações, tudo mergulhou no esquecimento. Ocorre que esse cidadão sobrevivente é muito amigo de um conhecido de um primo meu de segundo grau que eu vejo de vez em quando. Ele se chama Botelho e o cachorro se chamava Altamiro.
O Botelho é um otimista inveterado. Desses caras que só querem ver o lado bom das coisas, o que de certa forma pode ser bom em dadas circunstâncias, mas quando cai no exagero transforma-se numa tremenda chatice. Afinal o que seria do bem se não existisse o mal, não é mesmo?
O Botelho sobreviveu ao acidente graças ao Altamiro. Literalmente. Literalmente não. Carnalmente seria mais correto dizer. Não o que vocês provavelmente estejam pensando. Não foi nada de sacanagem. Quer dizer, não essa sacanagem que vocês provavelmente estejam pensando. Foi outro tipo de sacanagem. O Botelho comeu o Altamiro. Isso mesmo. Quando a fome bateu, o Botelho foi mais rápido do que o Altamiro e abateu o pobre do cão e comeu ele cru mesmo. Cru propriamente não porque com o calor do deserto a carne ficou moqueadinha rapidinho.
Tudo isso o Botelho confessou depois consternado para a equipe de resgate que o resgatou. Confessou chorando diante dos ossos limpinhos do Altamiro. Limpinhos de tanto que o Botelho tinha chupado eles. Mas o Botelho fez questão de trazer a ossada inteirinha do Altamiro. Não permitiu que ficasse sequer um mínimo ossinho largado nas areias escaldantes daquele baita deserto.
O Botelho mandou depois fazer uma montagem com os ossos do Altamiro reproduzindo o esqueleto daquele que sempre foi seu fiel companheiro até o momento de sua morte (do fiel companheiro). Para preservar viva a memória do fiel companheiro morto em condições tão trágicas, mandou realizar aquela obra de arte.
O Botelho diz que o trabalho do artista ficou excelente. E tudo indica que ficou bom mesmo. Não é exagero do Botelho, não. Quem conheceu o Altamiro diz que a obra está quase irretocável. Um ou dois ossinhos que não se ajustaram bem. Coisinha insignificante.
O Botelho colocou a peça em posição de destaque no living do seu magnífico apartamento frente mar. Para todos os que o visitam diz que está muito satisfeito com tudo. Para os amigos mais íntimos, comenta de passagem, que às vezes sente pena que o Altamiro não esteja mais vivo para poder também admirar a obra.

(do livro “Contos Medonhos”)
http://books.google.com.br/books?id=ZZcuBQAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false

domingo, 8 de março de 2015

O CAMALEÃO PIMPÃO

Era uma vez, um camaleão que morava na Floresta do Nunca Mais da Terra-do-Faz-de-Conta. Seu nome era Pimpão.
Pimpão tinha uma coleção de camisas cada uma de uma cor. Branca, preta, amarela, azul, vermelha. Ele vestia a camisa dependendo da situação. Por exemplo, branca quando estava em paz com a vida; preta quando morria algum bicho na floresta.
A que ele mais usava era a verde para ficar disfarçado no meio das folhas das árvores e evitar que alguém pudesse enxergá-lo. Mas a que ele mais gostava era a cor-de-rosa. Só que tinha um porém. A camisa cor-de-rosa ele nunca usava. Não tinha coragem. Tinha medo que os outros bichos zombassem dele. Pensava que iam achar aquilo muito extravagante.  
 Num belo dia de sol, Pimpão acordou cedo. Lavou o rosto no orvalho da madrugada acumulado numa folha de bananeira. Vestiu uma camisa amarela, para agradar o sapo de papo amarelo, seu amigo inseparável, e saiu pela floresta em busca de comida.
 Depois de um tempo, Pimpão encontrou a arara azul que cantava no coral da orquestra da floresta. A arara azul lhe disse que aquela camisa amarela não lhe ficava bem; que ele devia era usar uma camisa azul. Azul sim é que era uma cor porreta. O camaleão, então, para agradar a arara azul, voltou para casa e trocou de camisa. Tirou a amarela e vestiu a azul. E saiu de novo pela floresta em busca de comida.
Logo em seguida, Pimpão encontrou o sabiá-laranjeira que vivia a assobiar o dia inteiro pelos galhos das árvores. Assim que o sabiá viu Pimpão de camisa azul, parou de assobiar e disse ao camaleão que aquela camisa não estava combinando; que ele devia era mudar para uma camisa de cor alaranjada, a cor que ele achava a mais bonita de todas, igual à cor de suas penas. Pimpão então, para agradar o sabiá, voltou para casa, tirou a camisa azul, escolheu uma que tivesse a cor que mais se aproximasse do alaranjado e de novo saiu para a floresta.
E assim Pimpão cada pouco encontrava um bicho que dava um palpite diferente sobre a cor da sua camisa. E ele aceitava. Voltava para casa correndo, mudava de camisa e saía novamente. 
Lá pelo meio da tarde, continuando o seu caminho, Pimpão encontrou mais adiante a família louva-a-deus. O pai louva-a-deus, que era muito sério e não gostava de gracinhas, ia à frente seguido pela esposa e seus sete filhos. Ao ver Pimpão usando camisa vermelha, por sugestão da arara vermelha lhe perguntou na lata se ele não tinha vergonha de usar uma camisa tão escandalosa; e antes que o camaleão esboçasse qualquer desculpa se afastou alertando que ele estava procurando sarna pra se coçar em não usar seu principal disfarce que era parecer verde; até profetizou que ele acabaria mal se não criasse juízo.
 Pimpão mais que depressa voltou para casa, jogou a camisa vermelha no fundo do baú e vestiu uma camisa verde. Verde que era a cor que ele sempre usava para poder ficar escondido no meio das folhas para que nenhum bicho pudesse enxergá-lo.  
Agora ele era estava camuflado, mas já era o fim do dia, escurecia e ele estava exausto de tanto ir e vir para trocar de camisa para agradar seus companheiros. Resolveu ficar em casa e descansar.
Enquanto descansava pensou em tudo o que tinha acontecido naquele dia e chegou à conclusão que nunca ia poder agradar a todos, pois tem gente que gosta disto e tem gente que gosta daquilo, tem quem adora comer farelo e tem quem detesta usar chinelo...
No dia seguinte, logo de manhãzinha, Pimpão levantou da cama com uma decisão tomada.
Enquanto lavava o rosto no orvalho da madrugada acumulado numa folha de bananeira apareceu por ali o sapo de papo amarelo, seu amigo inseparável, que pediu para ele colocar uma camisa amarela.
Pimpão educadamente respondeu que não. No dia seguinte talvez. Mas naquele dia, ele ia usar apenas uma camisa. Sua camisa preferida. A cor-de-rosa.
Pimpão tinha percebido que de nada valia agradar os outros se não agradasse também a si mesmo.


(do livro “54 histórias que minha avó contava na kombi”)

domingo, 1 de março de 2015

Estudo comparativo da presença da Violência nos contos “O burrinho pedrês” e “A hora e vez de Augusto Matraga”

        Era uma vez, no umbigo do mundo, um burrinho pedrês chamado Sete-de-Ouros. De compleição miúda e caráter resignado, hoje está idoso, muito idoso, decrépito, mas já foi bom, “tão bom como outro igual não existiu e nem pode haver igual.” (ROSA, 2001). Sua decrepitude, porém, ainda não lhe contaminou o intelecto. Mantém-se um burro sábio. Num momento de vacilação, contudo, comete o erro fatal (se os brutos também amam, os sábios também erram) de expor-se indevidamente aos olhos do patrão, o Major Saulo, porque “quem é visto é lembrado”. Mas há que se levar em conta que se tal engano lhe trará penosos sacrifícios físicos em compensação abrirá caminho à sua grandeza moral.
            Major Saulo, como bom mandão, não respeita a velhice do Sete-de-Ouros e ordena seja ele também arreado, juntamente com outros cavalos, jovens, fogosos, prepotentes, para servir de montaria na tropa de vaqueiros que se prepara pra tocar a boiada a ser embarcada em dois trens-de-bois que aguardam no arraial para transportar o gado aos centros consumidores.
            A viagem de ida até o arraial transcorre na normalidade sem maiores incidentes: é um marruá que tenta desgarrar; é uma “aratanha araçá empurrando os outros, para poder ficar no largo sozinha”; é um pé-duro querendo “pinchar pra fora da estrada”. A boiada vai — “pata a pata, casco a casco, soca soca, fasta vento, rola e trota, cabisbaixos, mexe lama, pela estrada, chifres no ar ...”. A vaqueirada em seus cavalos gingando bovinamente. Sete-de-Ouros mudo e mouco “no seu passo curto de introvertido, pondo com precisão milimétrica, no rasto das patas da frente, as mimosas patas de trás” segue devagar na rabeira mansamente amém. Tudo dentro dos conformes. Até a travessia do córrego da Fome — “em tempo de paz, não passa de um chuí chocho — um fio” de fiume, mas agora, nos meados deste janeiro de um ano terminado em seis (vai daí, ano de grandes chuvas, quase que contínuas [ora finas, miúdas ora grossas, bagudas, encharcando até os ossos, fazendo a lama brotar]), transformado num rio grande, perigoso, borbotando, roncando com brutalidades fluviais — se dá sem entrevero, na paz, sem perda de cabeça de gado nenhuma.
            Incidente, único, talvez, carente de apontamento mais específico, dentro do triquetrique normal da marcha é o intempestivo ataque de um zebuno enorme, atiçado de raiva pelo Silvino, pra cima do Badú que, no seu per si de vaqueiro não nascido ontem, consegue se safar ileso. Comenta-se que o Silvino quer acabar com o Badú e o motivo é mulher. Badú roubou a namorada do Silvino.
            O embarque da boiada, quatrocentos e sessenta cabeças de um gado honesto, separadas lote a lote lotando os carros-jaulas de dois trens-de-bois, demora mais de hora e meia. Major Saulo resolve ficar no arraial com a família. Os vaqueiros, encharcados, enlameados, cansadíssimos e famintos saem para comer e, principalmente, beber. Os cavalos, afrouxadas as barrigueiras e tirados os freios, descansam sob o telheiro de um galpão. Sete-de-Ouros, “num canto mais escuro, só e sério, sem desperdício, sem desnorteio, cumpridor de obrigação, aproveita pra encher mais um pouco a lingüiça da sua vida infinda” mastigando com tranqüilidade os molhos de capim triturados docemente o melhor possível pela dentuça gasta de burro velho. De repente os vaqueiros chegam, montam e saem. Badú, o mais encachaçado de todos, é o último a chegar ao galpão. Pra ele sobra só o Sete-de-Ouros. Bebedérrimo, Badú excomunga a má sorte, mas, que remédio, se conforma e monta o burrico. Sete-de-Ouros pressente vida ruim de regresso. 
Tem início a viagem de volta. Já está escurecendo. Os vaqueiros, sem a boiada, como almas sem corpo, vêm em fila índia. Pra passar o tempo, jogam conversa fora, contam causos, bebem mais cachaça. Silvino, apesar dos conselhos veementes do irmão, irredutível jura em cruz que de hoje não passa. Depois do Fome, sangra o desafeto e cai no mundo. Mas onde está o Fome? Com a chuva contínua durante todo o dia, o terreno empapado da várzea é agora um pantanal. É a enchente! Num repente, os cavalos empacam, passarinhando com medo. É bem o regolfo da enchente que toma conta do plaino. Os vaqueiros decidem esperar o Badú que vem na rabeira. O burro caduco é quem vai resolver a parada: “se ele entrar n’ água, os cavalos acompanham... Burro não se mete em lugar de onde ele não sabe sair!” Finalmente chega o burrico trazendo Badú. Sete-de-Ouros para o chouto. Toma tino da aragem. Treva espessa. Perigo difuso. Dificuldade certa. Pondera. Assunta do bom e do mau e então avança resoluto, chafurdando na água. Os temerosos cavalões criam coragem e seguem o burrinho valente. A tropa mergulha de vez na incerta escuridão.
  De curto, Sete-de-Ouros perde o fundo e rompe nado não sem antes fazer parentesco com a correnteza e escolher rumo. Atrás a cavalada afoita corta água. Num triz um rebojo sinuoso separa todos. O córrego transformado em mar crispa uma sístole violenta. Ninguém pode mais acertar caminho. O dilúvio não dá fim. Sete-de-Ouros mete o peito. Avança. De repente pára. Espera passar um lenho longo com poder de testa de touro. Agora não resiste mais. Deixa-se levar ao querer da correnteza. E desce mais porcariada: toros, galhos, ciscos, folhas. Ruge o rio. Os cavalos se debatem. Lutam em vão contra a força tragadora das águas. Humanas vozes gritam sobre-humanos derradeiros gritos antes de soverterem num redemunho chupão. Noite feia! Oito vaqueiros mortos. Entre eles o Silvino. Sete-de-Ouros — Badú dormindo agarrado à crina, Francolim, o meio-capataz do Major agarrado ao rabo — safa-se na manha. Já na fazenda, desarreado, fareja o cocho e acha milho. Come. Espoja-se, esfregando as costas no chão, as patas bailando no ar. Come mais. Depois, acomoda-se entre a vaca mocha e a vaca malhada que ruminam quase sem bulha na escuridão, e dorme o merecido sono dos justos.   
           
            Se Augusto Estêves de início ainda é Nhô Augusto – o homem – no final só é Matraga, Augusto Matraga. Mandão decadente fazendeiro ali no Saco-da-Embira, nas Pindaíbas, sujeito arrogante, desamado da esposa, estúrdio, estouvado, sem regra, com dívidas enormes, sem crédito, terras no desmando, política do lado perdedor. Imprudente, ignorante de ponderados pensamentos, desapercebido da chegada da urucubaca vai desafiar, sozinho, o Major Consilva que lhe arrebanhara os capangas a troco de melhor paga, na própria chácara desse. É desancado a poder de porretes, pés e mãos pelos capangas do Major. Humilhado a fogo na polpa glútea direita com a marca do gado do Major, escapa de morte certa ao reunir as derradeiras forças físicas e mentais e pular pro fundo bem fundo de um alto barranco, o corpo lá embaixo sumido no meio do mato. Recolhido por um casal de pretos que mora num casebre mal-ajambrado escondido no meio daquele grotão, recupera-se. Os três vão morar num povoado distante, do Tombador. Augusto passa a viver regradamente. Trabalha que nem um afadigado, mas sem ganância, só no de querer ajudar os outros, de repartir, dando de amor o de seu. Afasta as tentações. Não fuma, não bebe, não olha pro bom-parecer das mulheres, nada deseja, cansa o corpo no pesado e dá muitas rezas pra sua alma. Ele jura, rejura e trejura que vai pro céu nem que seja a porrete.
            Certa feita passa por aquelas bandas o bando jagunceiro de Seu Joãzinho Bem-Bem. Augusto dá pernoite à jagunçada com toda tenção no seu rancho. Ao partir cedinho na manhã seguinte, Seu Bem-Bem convida Augusto pra se integrar ao bando. Esteves sente o sangue de Nhô Augusto percorrer as veias, mas resiste à tentação. Aquele oferecimento é como cachaça em copo grande, o comichão da vontade de aceitar bulindo por dentro e ir também ... mas qual o quê; agora que já tem andado em tão grande caminho de penitências não pode mais andar de fasto. — Vou ir não Seu Joãozinho. Me desculpe, meu rumo agora é outro.
            O tempo passa e um belo dia sem mais nem porque Augusto decide partir sozinho: “Adeus, minha gente, que aqui é que mais não fico, porque a minha vez vai chegar”, montado num jumentinho, animal meio sagrado, misturado à vida de Jesus Cristo. Todos sentem muito a sua partida. Viaja por muitas paragens assim meio que sem destino certo, só olhando pra frente, andando solto, na desobrigação das coisas do mundo e de bem com Deus! No arraial do Rala-Coco reencontra a jagunçada de Seu Joãozinho Bem-Bem que está descendo pra Bahia. Já estão de partida, falta só “ajustar um devido para não se deixar rabo para trás ...” ou seja, liquidar a família inteira do fugitivo matador à traição do Juruminho, um dos cabras do bando, baleado pelo fujão por detrás. O velho pai do matador implora piedade para a família. Que seja apenas ele sacrificado. — Piedade? Quem teve piedade do Juruminho? Perdão? Cala a boca, velho, a obrigação tem de ser cumprida e logo. É a regra... Diante da inclemência do jagunço o pai enfurece e, triturando as palavras entre os dentes, cuspindo baba, urra invocando a força de Deus contra a força maldita de Satanás. Augusto Estêves, atingido no âmago por aquelas palavras, como uma senha mística desvelada, rompe o silêncio que segue a reação desesperada do pobre homem e intercede por ele. — Está mangando de mim, mano velho? — pergunta Seu Bem-Bem. — Estou não. Estou pedindo como amigo. — responde Augusto. — Pois pedido nenhum desse atrevimento eu até hoje nunca que ouvi nem atendi! ...   — Pois então, meu amigo Seu Joãozinho Bem-Bem, é fácil ... Mas tem que passar primeiro por riba de eu defunto ... Depois de terrível tiroteio os dois valentes se pegam em briga de faca cá para fora da casa. Seu Joãzinho Bem-Bem talhado de baixo pra cima do púbis à boca-do-estômago estrebucha com as tripas nas mãos. Augusto, agora Matraga, pondo sangue por todas as partes, de tanto chumbo que levou no tiroteio, um contentamento sério no rosto, expira em paz. Encontra sua hora e vez, por fim. (ROSA, op. cit.)
            “O burrinho pedrês” e “A hora e vez de Augusto Matraga”, respectivamente, abre e fecha o livro de contos de João Guimarães Rosa, Sagarana no qual a matéria prima básica, o tema central, recorrente, o motivo condutor principal das ações é a violência que campeia pelo sertão das Gerais e por outros sertões, palco dos acontecimentos. No livro o autor procura “pensar o problema” da violência sem dogmatismo, livre do anseio de encontrar solução categórica para a questão; almeja, sim, apresentar pela via ficcional literária, algumas facetas dos males da sociedade brasileira coevos e herdados da sua História (nosso karma, nosso “quinhão” dado pela Fortuna), e daí, por meio da obra passar o seu recado ao porvir a fim de tentar inspirá-lo no trilhar veredas que o levem — quem sabe? — a um destino mais digno (WISNIK, 2005).
              O dicionário define violência como “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra alguém; crueldade; força”. Palavra de origem latina – violentia,ae – liga-se etimologicamente ao substantivo feminino uis,uis – força física, vigor, que, por sua vez, está na raiz do substantivo masculino uir,uiri – varão, macho. Violência, assim, partindo-se de seu significado primitivo, poderia ser traduzida como “o emprego da força pelo macho”,  conceito miudamente assente no sertanismo rosalino.
Diz ainda o “pai-dos-burros”: “vingança é o ato ou efeito de vingar(-se); desforra; vindita; castigo; punição”. Vocábulo derivado do verbo vingar cujas acepções usuais são: “punir, castigar”, mas que pode significar “reparar”, e também: “vencer, prosperar, crescer”, oriundo do verbo latino vindicare – vingar, punir, castigar, reivindicar, livrar, libertar (o particípio passado – vindicatus,a,um tem as acepções de punido, castigado, mas também de libertado, salvo), com o mesmo radical latino contido no substantivo concreto vindex,icis – fiador, defensor, protetor, vingador, que contém a mesma raiz de iudex,cis – juiz, árbitro. Semanticamente, assim, por sua própria etimologia, vingança tem significado ambíguo: o corriqueiro – ato de punir, castigar – mas também, pode significar – reivindicação ou libertação. A vingança no seu significado costumeiro de castigo, punição, de pronto associa-se à violência para atingir seus fins; freqüentemente, é justificada como reação a uma ação violenta sofrida anteriormente e uma vez efetivada por meio de violência justificará nova vingança com violência estabelecendo-se a cadeia vingança-violência-vingança-violência etc. Vingança como ato reivindicatório ou de libertação pode usar como instrumento para atingir seus objetivos não a violência, mas a astúcia ou a renúncia (MATTA, 1980).  
Astúcia, sinônimo de esperteza, manha, sagacidade. Com a astúcia a violência fica escamoteada. É o jeito malandro de se vingar, reivindicando algo, tão típico do brasileiro, particularmente o urbano costeiro, não apenas, mas principalmente o inserido nos extratos medianos da sociedade, compelido — ora mais ora menos, uns pouco, muito outros — a lançar mão das “técnicas da malandragem” para viver ou conseguir sobreviver. Vem daí, talvez, nossa permanente ambição de “issperrteza”, de levar vantagem; nosso gosto pelo futebol arte, do drible da vaca ou entre as pernas do adversário depois de várias pedaladas; nossa compulsão à burla da lei, ao “jeitinho”, à corrupção; e, quiçá também, nossa paixão pelo carnaval e nosso amor pelo samba, bens maiores da nossa cultura.
Renúncia, de re-nuntiare, o prefixo re- com sentido de negação, anunciar a retirada de, revogar, desistir, to give up. Com a renúncia a violência é negada. É o jeito penoso de se vingar que busca a libertação rejeitando o ato agressivo de violência e aceitando o ato medroso de renúncia; medroso não no sentido de temor covarde, mas no sentido de temor prudente que reprime a ação agressiva. A vingança como ato exteriorizado de punição de outrem é inibida, transforma-se em ato interiorizado de autopunição e rompe, assim, a cadeia vingança-violência-vingança-violência. Com o binômio vingança-violência quer-se, punir-dominar pelo emprego de força física ou intimidação moral, transitando-se essencialmente no plano material/corporal. Com a renúncia almeja-se a libertação pelo emprego de força moral para ascender ao plano metafísico/espiritual.
Para ampliar o rascunhoso rabisco desse quadro poder-se-ia considerar também a combinação da astúcia com a renúncia como instrumento de vingança [nesse caso, melhor termo, talvez, fosse lambança]; dir-se-ia uma renúncia astuciosa, ou uma astúcia renunciosa, ou então uma astúncia; mecanismo com pleno respaldo jurídico, inteligentemente instituído no arcabouço constitucional para ser sabidamente tão bem e corriqueiramente utilizado por tantos patrióticos políticos, bastiões severinos da moralidade pública em muito passageiros momentos de aperreio! Mas isso é uma outra história que aqui não cabem hora e vez...
Resumindo pode-se dizer que o cerne da violência é o instinto natural de agressividade; o da renúncia é o de medo. A astúcia centra-se na inteligência.
            Como mostrou Antonio Candido (2000), a vingança pode ter natureza essencialmente pessoal, resultante da exacerbação do individualismo, “eixo da conduta burguesa”, quando a ética capitalista fundamentada na competição, na “apoteose do êxito pessoal”, no direito às conquistas sociais pela força do talento e da habilidade é levada às últimas conseqüências, não sendo raros os casos de ruptura do equilíbrio psicológico do indivíduo que pode atingir casos patológicos extremos. O paroxismo paradigmático dessa circunstância está bem representado na conduta do protagonista do conto “O cobrador” de Rubem Fonseca (1994). Essa vingança é burguesa, urbana. Não é dessa vingança que a ficção rosiana trata. Aqui a força motriz da vingança é mais socializada e atua em ambiente rural. Ela tem motivação na posse de objetos: mulher, gado, terra; na conquista ou manutenção de poder político; na auto-afirmação de poder pessoal e na busca do reconhecimento desse poder pelo meio. E aquele fio etimológico que une as palavras, macho e violência, instrumento de vingança, apresentado anteriormente, ganha nitidez. O homem, o varão, o macho, é o agente violentador: de outros homens, da mulher, dos animais, da natureza. A mulher está reduzida a quase nada, sem voz, mero objeto de posse para a satisfação carnal do macho, para procriar e para servir na lida doméstica, é uma coisa passiva O mundo do sertão é um mundo de cabras machos valentes que vingam violentando machistamente. É isso, mas não é só isso ...
                    Em “O burrinho pedrês” o fulcro da vingança que se afigura desde o início do conto é a posse do objeto mulher. Badú roubou a namorada de Silvino. Esse, então, quer se vingar com violência matando o desafeto. São vaqueiros, não são jagunços (de quem seria mais natural esperar atos de violência radicais), mas a rusticidade do meio torna difusa a fronteira entre uma condição social e outra. Há mobilidade: o vaqueiro de ontem é o jagunço de hoje que poderá ser, de novo, o vaqueiro de amanhã e a reação de Silvino deve ser encarada como “normal”. Nesse sertão bravio desenvolvem-se leis particulares; impõem-se regras de conduta diversas daquelas esperadas para o homem dito civilizado. As leis oficiais válidas em princípio para todos os cidadãos, encontram maior guarida nos ambientes mais urbanizados, ainda que, mesmo aí, com uso eivado de parcialidades resultantes do abuso do poder plutocrático e outras formas de poderes ao primeiro, de uma forma ou de outra, dependentes; comportamento que revela a arrogância do poder discricionário paternalista brasileiro, sabiamente resumida no dito popular: “para os inimigos aplica-se a lei; para os amigos dá-se um jeito”. No Brasil urbano-litorâneo a lei falta; no inurbano-interiorano falta a lei (WISNIK, 2002). Ou quiçá, o mundo do sertão crie suas próprias leis e suas maneiras próprias de aplicá-las.
Silvino planeja executar o ato de violência durante a viagem de regresso dos vaqueiros à fazenda, depois do embarque da boiada. Viagem que é motivo presente em praticamente toda a obra de Guimarães Rosa (NUNES, 1969), espaço móvel onde se desencadeiam os sucessos, os conflitos, os acontecimentos trágicos ou cômicos que constituem a matéria-prima ficcional. Durante a viagem de ida, Silvino pratica um ato de violência disfarçado ao atiçar um zebuno enorme pra cima de Badú que, graças às suas habilidades de vaqueiro consegue contornar a situação. Cena em que se confrontam o sertanejo e o boi, boi também presente praticamente em cada página roseana, boi agente unificador do sertão e base de sua economia (GALVÃO, 1972).  Em Guimarães Rosa o boi é um ser dotado de sentimentos, sente afeto, saudades, remorso, tem alma e até língua. Sua extraordinária força bruta permanece a maior parte do tempo contida num estado de violência latente que pode explodir a qualquer momento, como no caso do ataque do zebuno sobre Badú; outro exemplo é o causo contado por Raymundão ao Major Saulo na viagem de ida: a morte brutal do menino Vadico pelos chifres e pelas patas do terrível zebu Calundú. Calundú agiu por instinto animalesco inato, mas depois, percebe seu erro e movido pela afetividade tenta redimir-se do crime; no dia seguinte, após uma noite inteira de mugidos pungentes, morre de arrependimento bem no meio do curral. O animismo que impregna os animais impregna, também, a natureza.
O córrego da Fome transformado em grande rio perigoso pelas chuvas contínuas e interposto à passagem dos vaqueiros assume papel de agente vingador da violência humana encarnada pelo vaqueiro Silvino que pretende matar Badú logo após a passagem do córrego. A natureza frustra a ação violenta do homem, mas lança mão, também, de violência. Ela contrapõe à violência humana uma violência ainda maior. Inibe a agressividade inata do ser humano, exacerbada pelo ambiente agreste hostil, impondo-lhe uma violência movida por força sobre-humana oriunda de um poder mítico superior; força descarregada sobre o infeliz mortal com fúria vingadora, no exercício de missão impositiva de castigo expiatório de seus pecados, além de apontar para sua pequenez, sua fragilidade, sua fraqueza. A violência da natureza é implacável com os homens e com os animais. Pune Silvino, o vingativo assassino iminente, outros vaqueiros que nada têm a ver com o crime que se avizinha e também os cavalos, antes impávidos, arrogantes, agora covardes, desesperados; todos, homens e animais afogados nas águas do córrego transformado em mar furioso. Poupa Badú, a vítima a ser vingada pelo crime de ter se apossado da mulher do outro; Francolim Ferreira o meio-capataz que desde primeiro instante se preocupou com a situação e envidou todos os esforços para impedir o crime; e Sete-de-Ouros, o burrinho pedrês, sempre humilhado devido à sua velhice, lerdeza, porte tacanho. A clemência da natureza não é, contudo, um ato aleatório, resulta do modo de agir do burrinho que usa inteligência, sabedoria, esperteza, malandrice para se safar dos perigos. Sete-de-Ouros vinga-se por meio de astúcia (que seus prepotentes ex-companheiros cavalares não souberam utilizar) ao neutralizar a vingança violenta da natureza. Assim, salva seu prostrado cavaleiro, conquistador barato de corações femininos, anulado completamente pela embriaguez, mais um rude peão pacifista agarrado a seu rabo e a si próprio. 
Nhô Augusto no início usa, arrogantemente, de violência, escudado em sua posição social privilegiada de proprietário de terras, chefão, macho arretado. Age com empáfia no leilão das prostitutas, humilha o capiau amoroso, humilha Tomázia Sariema, a prostituta leiloada, despreza a esposa. É violência sem o uso de força física, mas instrumento de intimidação moral daqueles que o cercam (v. definição de violência supra). É violência para auto-afirmação e confirmação do reconhecimento pela sociedade à qual pertence do seu poder de mandão. Mas ele é um mandão decadente. Está endividado, não tem mais o poder do dinheiro. O hábito da soberba, porém, inibe-o de autocrítica mínima, que lhe permitiria avaliar sua situação decrépita. Num rompante vai sozinho enfrentar o Major Consilva. É aí, então, que se dá o revertério. O Major, covardemente faz a capangada desancar Nhô Augusto. O capiauzinho enrabichado da Sariema, um dos capangas, dá vazão a todo o ódio armazenado em seu peito de homem subalterno, submetido a constantes humilhações, agrega sua violência àquela violência covarde e vinga-se de sua vida mesquinha descendo, também, o porrete no lombo do agora já ex-mandão. Nhô Augusto é rebaixado à condição subumana ao receber na polpa glútea direita a marca ignominiosa (GALVÃO, 1978) do ferro de marcar gado do Major Consilva. É a supremacia de um mandão, no pleno exercício do seu poder de proprietário, de possuidor de patrimônio, sobre outro mandão, decadente, avalizada pela violência física brutal e covarde.
Augusto Estêves vê a morte de frente, conhece o medo, medo de não obter perdão pelos pecados cometidos, medo de não alcançar a redenção, salvo milagrosamente, atina sua condição rebaixada e entra em nova fase de vida. Despe-se de toda arrogância e passa a viver de forma contrita purgando os pecados antigos e esforçando-se para não cometer novos pecados. Trabalha duro na terra. Ajuda os necessitados. Assume postura humilde, casta, religiosa. Seu propósito singelo, que se coaduna com seu modo agreste, rústico, rude de ser, é ir pro céu nem que seja a porrete. Rejeita o convite para se agregar ao bando de jagunços de Joãozinho Bem-Bem. Resiste em assumir a tentadora condição de jagunço que lhe permitiria vingar-se com violência sobeja do Major Consilva e de seu Ovídio que lhe tomara a esposa, Dona Dionóra. Augusto Estêves rejeita a vingança pela via da violência; movido pelo sentimento de medo que passa a conhecer abraça a vereda da renúncia que pode ser considerada um modo radical de rejeição. Augusto Estêves quer que tudo se passe como se ele tivesse morrido. Ao rejeitar a vingança violenta e aceitar como forma de vingança a renúncia “liberta-se do seu passado e, assim fazendo, abre as portas de seu futuro. Ele cria e inventa novos espaços sociais. Com o renunciador, estamos no plano mesmo onde se implementa socialmente a esperança.” (MATTA, op. cit., p. 259) Mas o destino ainda haveria de lhe impor mais uma provação.
Ao reencontrar-se com o bando de jagunços de Joãozinho Bem-Bem, para proteger o velho pai de família da vingança do chefe jagunço, é compelido novamente à violência destruidora. Para encontrar finalmente sua hora e vez e salvar sua alma é obrigado pela força do destino a enfrentar Bem-Bem praticando ato criminoso que desde sua conversão até aquele momento vinha reprimindo com medo de não merecer a salvação eterna. O ato criminoso, porém, torna-se milagrosamente ato de redenção e Augusto, agora Matraga, ao se fazer momentaneamente jagunço “sobe em vez de cair, pois está adotando uma forma justa de comportamento, cujo resultado final é, paradoxalmente, suprimir o jaguncismo” (CANDIDO, 2004).
A invocação de violência no desejo de redenção de Augusto Matraga – ir pro céu nem que seja a porrete sonhando com um Deus valentão – e o emprego de violência no heróico ato de morte final que concretiza o desejo de redenção, podem parecer paradoxais, mas devem ser entendidos como condição natural e coerente, no ambiente violento do sertão, para um homem formado mandão, como o foi Augusto, embora, tal desejo, de certa forma, se frustre. Augusto Matraga não vai pro céu a porrete (vai a bala e a faca).

Divagando agora pelo geocentrismo pré-copernicano, sistematizado por Ptolomeu como concepção cosmológica do universo e tendo em conta as idéias da Astrologia como doutrina para relacionar o indivíduo ao universo (WISNIK, 2005, op. cit.) pode-se estabelecer que: Sete-de-Ouros é um saturnino típico; pesado, lento, tardio, mas cerebral; através do pensamento e da inteligência enfrenta os problemas que se interpõem à sua frente, solucionando-os, conseguindo ao final de sua viagem – física e espiritual – pelo bom termo atingido, transformar-se em sol integrador. Nhô Augusto Matraga Estêves é marciano de início; é homem mandão de guerra irrefletida; na fase seguinte, converso é selênico, frio, vai durando com estados de ânimo cíclicos, mas esforça-se em redimir-se pelas penitência e doação ao próximo; o passado é uma lembrança que procura apagar voluntariamente, embora lhe venha em pensamentos involuntários; aos olhos dos antigos conhecidos (representados por Tião da Thereza) aparenta ser um lunático; na hora suprema da redenção volta a ser marciano, agora não “por boniteza mas porém por percisão” para atingir ao fim e ao cabo de sua tumultuada vida-viagem  o estado solar totalizador.         
     
     

    Bibliografia

CANDIDO, Antonio. “Da Vingança” em: Tese e Antítese – ensaios. 4ª. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, pp. 3-28, 2000.
—————————. “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa” em: Vários Escritos. 4ª. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, pp. 99-124, 2004.
FONSECA, Rubem. “O cobrador” em: Contos reunidos. Organização de Boris Schnaiderman. São Paulo: Cia. das Letras, pp. 491-504, 1994.
GALVÃO, Walnice Nogueira. “O sertão e o gado” em: As formas do falso – Um estudo sobre a ambigüidade no Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Perspectiva, pp. 25-34, 1972.
————————————. “Matraga: sua marca” em: Mitológica Rosiana. São Paulo: Ática, p. 48, 1978.
MATTA, Roberto da. “Augusto Matraga e a hora da renúncia” em: Carnavais, malandros e heróis – Para uma sociologia do dilema brasileiro. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, pp. 236-259, 1980.
NUNES, Benedito. “A viagem” em: O dorso do tigre – ensaios. São Paulo: Perspectiva, pp. 173-179, 1969.
ROSA, João Guimarães. “O burrinho pedrês” em: Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, pp. 29-97, 2001.
——————————. “A hora e vez de Augusto Matraga” em: Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, pp. 363-413, 2001.
WISNIK, José Miguel. Notas de aula. Curso de Literatura Brasileira II. São Paulo, FFLCH-USP, 2º. semestre 2005.
——————————. “O famigerado” SCRIPTA, Belo Horizonte, v.5, n. 10, pp. 177-198, 2002.


(em “Ensaios Desnecessários” – inédito)