Era uma vez, um camaleão que morava na Floresta do Nunca Mais da
Terra-do-Faz-de-Conta. Seu nome era Pimpão.
Pimpão tinha uma coleção de camisas cada uma de uma cor. Branca, preta,
amarela, azul, vermelha. Ele vestia a camisa dependendo da situação. Por
exemplo, branca quando estava em paz com a vida; preta quando morria algum
bicho na floresta.
A que ele mais usava era a verde para ficar disfarçado no meio das folhas
das árvores e evitar que alguém pudesse enxergá-lo. Mas a que ele mais gostava
era a cor-de-rosa. Só que tinha um porém. A camisa cor-de-rosa ele nunca usava.
Não tinha coragem. Tinha medo que os outros bichos zombassem dele. Pensava que
iam achar aquilo muito extravagante.
Num belo dia de sol, Pimpão acordou
cedo. Lavou o rosto no orvalho da madrugada acumulado numa folha de bananeira. Vestiu
uma camisa amarela, para agradar o sapo de papo amarelo, seu amigo inseparável,
e saiu pela floresta em busca de comida.
Depois de um tempo, Pimpão encontrou
a arara azul que cantava no coral da orquestra da floresta. A arara azul lhe
disse que aquela camisa amarela não lhe ficava bem; que ele devia era usar uma
camisa azul. Azul sim é que era uma cor porreta. O camaleão, então, para
agradar a arara azul, voltou para casa e trocou de camisa. Tirou a amarela e
vestiu a azul. E saiu de novo pela floresta em busca de comida.
Logo em seguida, Pimpão encontrou o sabiá-laranjeira que vivia a assobiar
o dia inteiro pelos galhos das árvores. Assim que o sabiá viu Pimpão de camisa
azul, parou de assobiar e disse ao camaleão que aquela camisa não estava
combinando; que ele devia era mudar para uma camisa de cor alaranjada, a cor
que ele achava a mais bonita de todas, igual à cor de suas penas. Pimpão então,
para agradar o sabiá, voltou para casa, tirou a camisa azul, escolheu uma que
tivesse a cor que mais se aproximasse do alaranjado e de novo saiu para a
floresta.
E assim Pimpão cada pouco encontrava um bicho que dava um palpite
diferente sobre a cor da sua camisa. E ele aceitava. Voltava para casa
correndo, mudava de camisa e saía novamente.
Lá pelo meio da tarde, continuando o seu caminho, Pimpão encontrou mais
adiante a família louva-a-deus. O pai louva-a-deus, que era muito sério e não
gostava de gracinhas, ia à frente seguido pela esposa e seus sete filhos. Ao
ver Pimpão usando camisa vermelha, por sugestão da arara vermelha lhe perguntou
na lata se ele não tinha vergonha de usar uma camisa tão escandalosa; e antes
que o camaleão esboçasse qualquer desculpa se afastou alertando que ele estava
procurando sarna pra se coçar em não usar seu principal disfarce que era
parecer verde; até profetizou que ele acabaria mal se não criasse juízo.
Pimpão mais que depressa voltou
para casa, jogou a camisa vermelha no fundo do baú e vestiu uma camisa verde. Verde
que era a cor que ele sempre usava para poder ficar escondido no meio das
folhas para que nenhum bicho pudesse enxergá-lo.
Agora ele era estava camuflado, mas já era o fim do dia, escurecia e ele
estava exausto de tanto ir e vir para trocar de camisa para agradar seus
companheiros. Resolveu ficar em casa e descansar.
Enquanto descansava pensou em tudo o que tinha acontecido naquele dia e
chegou à conclusão que nunca ia poder agradar a todos, pois tem gente que gosta
disto e tem gente que gosta daquilo, tem quem adora comer farelo e tem quem detesta
usar chinelo...
No dia seguinte, logo de manhãzinha, Pimpão levantou da cama com uma
decisão tomada.
Enquanto lavava o rosto no orvalho da madrugada acumulado numa folha de
bananeira apareceu por ali o sapo de papo amarelo, seu amigo inseparável, que
pediu para ele colocar uma camisa amarela.
Pimpão educadamente respondeu que não. No dia seguinte talvez. Mas naquele
dia, ele ia usar apenas uma camisa. Sua camisa preferida. A cor-de-rosa.
Pimpão tinha percebido que de nada valia agradar os outros se não
agradasse também a si mesmo.
(do livro “54
histórias que minha avó contava na kombi”)
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