domingo, 20 de junho de 2021

Algures

 onde tavas tu jeremias que a mim não vinhas

enquanto eu aqui gemia no chão frio da cozinha 

mastigando a cota diária de espinho a mim reservada

temperada com pitadinhas de paciência e humor 

deglutindo sua acuidade sem pressa para engolir

vivente apreendedor de aflições à míngua de alegrias 

nas recorrentes rebordosas da vida me escorando na ribanceira 

cicatrizes na carne apresento poucas sobejam porém na alma

testemunha medíocre desta mundana algaravia de erros

me vendo quase todo consumido em enganos sob o manto do vexame 

sem negar ter tido muitas vezes coração iracundo apto à vingança

mas que no frigir dos ovos poder afirmar talvez sem extrapolar demais 

ser um ser não temente à maldição por não ter negado arrimo a alguém carente  

muito pelo contrário sentindo primeiro para entender depois

o ridículo da pequenez do socorro recebido em troca do tanto feito pros outros

vai daí quem sabe o aprendizado de criar desapego a pessoas 

ingenuidade querer curar as feridas com mel de laranjeira

quando o corriqueiro ofertado é salada de flor de espirradeira

entrementes debaixo de tantas nuvens carregadas de escuridão 

busco uma nega de luz num fundo azul celeste levado por fogo fraco  

um tanto a certo esmo sem compreensão de mim mesmo com ligeira saciedade

no eco de tantas horas perdidas deixo escapar o passante momento 

comendo na mão da melancolia para um dia pra frente 

lembrar pesaroso do instante presente 

sem ânimo para invejar as bravatas de tantos empoderados 

boto no bolso a saudades e sigo à toa pisando rotas rotas que levam a becos escuros 

fedendo a urina e fezes humanas    

Nenhum comentário:

Postar um comentário