domingo, 25 de abril de 2021

Quando talvez quem sabe

quando

um deus verdadeiro

se torna incapaz de me socorrer

e o diabo astucioso com disfarçado desprezo

me atrai para seus múltiplos templos

onde cultos profanos me ludibriam


quando

em meus ouvidos moucos 

o passado se transforma num eco mudo

referência nula para um presente pobre

semente infértil para um futuro estéril


quando 

as maravilhosas humanas conquistas

com seus duvidosos amplos benefícios

são fonte borbotoante de angústias insondáveis

resultantes de meus desejos questionáveis 

em busca de vãos prazeres insaciáveis


quando

protegido pelo escudo de bastarda liberdade

o poder concentrado em minhas mãos privilegiadas

serve para que eu plutocrata ali mais me locuplete

alimentando a insuperável miséria insuportável de tantos


quando 

minha irrefreável milenar ganância mais e mais 

descontroladamente crescente na linha do tempo 

a ponto de se aproximar da desmesura irresponsável  

passa a ameaçar de destruição a própria vida


talvez

fosse a oportunidade rara para eu 

deixar de lado ao menos por instantes

as ambições as espertezas as vaidades

invariavelmente infiltradas em minhas ações 

as telas da televisão do computador do celular 

nas quais abduzido me reflito cotidianamente


talvez

despojado de arraigada arrogância

nu em minha limitada humana condição  

refletido no âmago de mim mesmo 

devesse tentar refletir sobre a possibilidade  

de ser apenas um ser humano

pequenina parte fragmento frágil 

abandonado na solidão de um todo

infinitamente maior universal

um ser para o qual uma existência

simples e decente

é necessária mas é também 

mais do que suficiente


talvez

assim pudesse encontrar a trilha utópica que

me levaria perto da tão almejada felicidade


quem sabe

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