domingo, 27 de fevereiro de 2022

Solidão

no gozo de plena decrepitude 

acha-se perdido num labirinto imaginário 

que derrapa na curvatura obscura do espaço tempo

estático porém na concretude do cubículo  

com a complexidade geométrica de um ovo 

não repara que o velho espelho na parede defronte   

não reflete mais o mesmo rosto de agora há pouco 

sempre sobreposto à inescrutável alma solitária 

máscara que a monotonia cotidiana lavra

o burburinho da rua lá embaixo acompanhado 

de mosquitos invadem pela janela o aposento único  

entrementes observa indiferente

a tarde que vai tarde 

além daquela porta

ninguém esquecerá o que nunca foi

lembrado em tantos anos acumulado 

logo a lâmpada elétrica dará

olhos à noite que se aproxima

no minúsculo retângulo  

palco da patética épica

do utópico planeta ridículo 

inventado em sonhos loucos  

lugares onde jamais pisaram pés humanos

a penumbra que cai sobre a cidade

também penetra pouco a pouco 

ninguém se surpreenderá 

na hipótese remota de olhar 

se não enxergar nenhuma estrela no céu


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