domingo, 16 de setembro de 2018

PT 1 - então entornei a taça vazia

então entornei a taça vazia e
diletante celebrei o ícone morto
coração fraco haveria de chorar
sozinho arrasto o vil gravame
me perdendo no concreto
que se ergue sobre o asfalto
quente submisso aos pneus
soturnos louco derrotado
abafo o soluço e me infiltro
velhaco pelas vias ásperas da
cidade em que coagula um ar
de chumbo sobre águas turvas
a banhar esgotos podres
e o lixo resiste nas calçadas
abandonadas pisadas por nós
flácida chusma tacanha que não
se abala em poluir sem vislumbrar
o torto crucifixo que nos fará gemer
amargo à sombra da caverna
com nada mais para barganhar
além de apontar um balaço falso
ou decepar o frouxo pescoço inútil
encruzilhada para nos destruir
entrementes ausentes de rebuço
plácidos nos fechamos em torres
oblíquas para gozar molemente
lamentando a inefável corrosão
dos tímidos inertes escória a se
untar de ferro e fumaça ao estalar
da dura calcadura e torcemos o
nariz ao mau cheiro mostrando
repulsa ao jogar-lhes gravanhas
sem nela tocar súbito algo ruge
força cuspir o fel da garganta
mas em seguida se acalma logo
volta tudo de novo ao normal
com a cuspida caindo no nada

Nenhum comentário:

Postar um comentário