Na fila do hospital público
uma pequenina pinta preta
aparecida na panturrilha direita
de um dos milhões de modestos
cidadãos
que abundam pela vastidão de nossa
terra
enquanto aguardava sua vez de ser
talvez examinada
por algum eventual médico
plantonista
provavelmente
por não ter nada melhor para fazer
por mera distração ou por puro
exibicionismo
resolveu mostrar seus dotes de
metamorfismo
e virar um voraz cancro pustulento
que comeu as duas pernas os braços
o tronco e a cabeça
do mencionado humilde compatriota
paciente
a espera da chamada do seu número
de senha
(do livro “Poesia... Afinal pra
quê?”)
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