Era uma vez, na Terra-do-Nunca-Mais no tempo em que os animais falavam a
língua das crianças, uma toupeira chamada Jojoba. Jojoba morava com a família
num buraco debaixo de uma árvore enorme na Floresta Encantada. A Floresta
Encantada era uma floresta linda das poucas que tinham sobrado na
Terra-do-Nunca-Mais.
Todo ano no fim do ano tinha um concurso na Floresta Encantada. O
concurso era uma competição entre os bichos da Floresta. Cada vez era um tipo diferente
de competição. Quem ganhasse a competição ganhava um prêmio. Qualquer bicho da
Floresta podia participar. E a maioria dos bichos participava porque o prêmio
era muito legal. Só não participavam os bichos muito novinhos porque eram
criancinhas e ainda não conseguiam andar, ver e ouvir direito e os bichos muito velhinhos porque eram idosos
e não conseguiam mais andar, ver e ouvir direito.
Jojoba nunca tinha participado do concurso porque os pais de Jojoba achavam
que ele era pequeno. Mas o tempo foi passando (e o tempo passa depressa) e
Jojoba foi crescendo até que chegou a hora que Jojoba pôde participar. No ano
que Jojoba foi participar pela primeira vez a competição era prender o saci na
garrafa.
Chegado o dia do torneio Jojoba dirigiu-se para o local de partida da competição.
Os competidores ocupavam uma grande clareira no meio da floresta e ouviam o
macaco, que era o juiz da prova, trepado no seu galho explicar em linhas gerais
as regras do jogo. Em seguida, o macaco mandou o bicho preguiça distribuir para
cada competidor uma folha em que estavam escritas detalhadamente todas as
orientações necessárias.
Jojoba, ao receber a folha com as instruções, viu-se em maus lençóis. Ele
não sabia ler patavina. Não conhecia nem a letra A. E ele já tinha idade para
isso. Acontece que o Jojoba ia de má vontade para a escola. Se pudesse, bem que
ele não ia. Não gostava de estudar. Não fazia as lições direito. Não prestava
atenção no que a professora estava ensinando. Ficava fazendo bagunça e zoando
com os amiguinhos.
Como o tempo não espera e vai passando o Jojoba foi ficando pra trás nos
estudos e ficando pra trás nos estudos foi ficando pra trás em tudo. E agora
ele estava ali segurando aquela folha nas mãos sem saber o que fazer com ela.
Aliás, ele nem sabia que estava segurando a folha de ponta-cabeça. Era mesmo
uma verdadeira toupeira.
Os outros competidores, que sabiam ler, leram as orientações e
rapidamente partiram. Jojoba ficou ali disfarçando como se estivesse lendo, mas
na verdade não estava entendendo bulhufas. Decidiu sair a esmo. E se deu bem
mal. Acabou se perdendo no meio de um pântano.
Perdido no meio daquele pântano perigoso, escuro e fedorento, Jojoba
desesperou e começou a chorar. Chorou, buá, e chorou, buá, buá, e chorou, buá,
buá e buá, tanto, tanto, fazendo baita barulho, que acabou acordando um duende
que morava num cogumelo embaixo de um manacá roxo.
O duende abriu a porta da sua casa cogumelo bem irritado por ter sido
acordado com aquela choradeira, mas ao olhar para aquela toupeirinha indefesa e
assustada ficou desarmado e educadamente perguntou o que estava acontecendo.
Jojoba entre soluços explicou a situação. Não sabia ler e por isso não
tinha conseguido seguir as instruções do jogo e tinha se perdido no meio do
pântano.
O duende coçou o cavanhaque, pensou um pouco e disse:
— Se você quiser, mas você precisa querer mesmo, de verdade, eu posso
ensinar você a ler. Não agora, evidentemente. Agora eu vou ensinar para você o
caminho de volta para sua casa e depois vou voltar a dormir porque trabalhei a
noite toda e estou pregado de sono. Esquece a competição deste ano. Essa pra
você acabou. Amanhã você pede para sua mãe deixar e volta aqui que vamos
começar as lições bem cedo. Talvez na competição do ano que vem você consiga se
sair melhor.
Dito e feito. O duende ensinou para o Jojoba o caminho de volta pra casa.
No dia seguinte de manhã bem cedo Jojoba pediu para a mãe e foi aprender a ler
com o duende. O duende era um excelente professor. Em três tempos Jojoba
aprendeu a ler perfeitamente. Agora ele não era mais analfabeto. Era uma
toupeira alfabetizada. Sabia ler todas as palavras e compreendia o significado
de quase todas elas.
No ano seguinte Jojoba entrou de novo na competição que todo ano no fim
do ano tinha na Floresta Encantada. Dessa vez conseguiu ler perfeitamente todas
as instruções impressas na folha de papel que o juiz macaco mandou o bicho
preguiça distribuir para os competidores. Leu tão bem que até ganhou o concurso
que desse ano foi a caça ao tesouro. O prêmio foi uma coleção de livros de
literatura infantil que o Jojoba lê até hoje.
(do livro “54
histórias que minha avó contava na kombi”)
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