Era uma vez, não faz muito tempo, num lugar não muito distante, havia uma
jovem muito bonita, mas muito maltratada. Seu nome era Sem Nome. Ela não
conhecia nem pai nem mãe. Morava com uma bondosa mulher idosa, que Sem Nome chamava
carinhosamente de madrinha, num barraco em uma das inúmeras favelas da cidade.
Sem Nome saía todos os dias bem cedo para trabalhar. Procurava sempre
levar consigo sua filhinha de colo. Embora Sem Nome ainda não tivesse
completado dezesseis anos já era mãe. Mãe solteira. A presença da pequenina no
local de trabalho ajudava a incrementar as vendas. Sem Nome vendia chiclete em semáforo. A mercadoria
não lhe pertencia, era fornecida por um importante comerciante através de uma
rede de intermediários que explorava o trabalho de crianças e jovens carentes e
abandonadas. O material era trazido do exterior de contrabando. Toda semana Sem
Nome tinha de fazer a prestação de contas cabendo-lhe uma parte ínfima da
receita apurada e recebia nova cota de caixas contendo envelopes de chiclete.
Na maioria das vezes ficava devendo e o acerto era adiado para a semana
seguinte.
O céu azul claro sem nuvens daquela manhã anunciava um dia de sol
intenso. Sem Nome, como de costume, saiu bem cedo para trabalhar, levando nos
braços a filhinha. Mas as vendas naquele dia estavam fracas. Poucos carros
circulando. A cidade estava anormalmente vazia. Devia ser por causa da data. Era
dia de Natal. Com certeza a maioria das pessoas tinha ido viajar. Por volta do
meio-dia Sem Nome resolveu parar de trabalhar e retornar para casa. Quando
deixava o local notou um movimento mais intenso do que o normal embaixo do
viaduto que havia nas proximidades do semáforo em que trabalhava. Ali viviam
uns catadores de lixo reciclável que perseveravam em ali permanecer apesar das
constantes incursões dos agentes da prefeitura na tentativa de expulsá-los. Num
primeiro momento, Sem Nome julgou que a agitação fosse obra dos tais agentes,
mas logo percebeu seu engano. De dentro de um carro enorme, imponente, estacionado
ao lado do viaduto, pessoas bonitas, bem vestidas, distribuíam pequenos pacotes
aos mendigos que se movimentavam alegremente em torno do grande carro fazendo
algazarra.
Sem Nome aproximou-se. Uma das pessoas chiques de dentro do carrão acenou
para Sem Nome e chamou-a: — Psiu, psiu, menina... pegue este presente. Feliz
Natal para você e sua família — e estendeu para a menina uma pequena caixa
embrulhada para presente.
Sem Nome agarrou o embrulho, piscando os olhos em sinal de agradecimento,
deu um breve sorriso e com o coração quase saindo pela boca de tanta alegria
afastou-se rapidamente. Estava tão contente que decidiu fazer uma
extravagância. Foi de ônibus para casa. Ao chegar constatou que a madrinha não
estava. Devia ter ido ao barraco da comadre que morava mais acima. A madrinha
adorava uma fofoca. Colocou a filha no estrado improvisado de berço e correu
abrir o pequeno pacote recebido de presente. Exultou de alegria quando viu o
que tinha ganhado. Deu graças aos céus. Talvez agora conseguisse finalmente
acertar suas dívidas com o atravessador. O presente era uma caixa fechada cheinha
com envelopes de chiclete.
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