Era uma vez, há muito tempo, quando os animais ainda falavam, os
cachorros decidiram organizar um grande baile para comemorar o Dia do Cão.
Como era esperada a presença de um grande número de cães de todas as
raças, cores, todos os tamanhos, tipos, credos, sexos etc. etc. os
organizadores decidiram por bem que os convidados ao chegar à festa deveriam
deixar o rabo na portaria do salão. Motivo: evitar que no calor do baile, com o
balança pra cá, balança pra lá, típica manifestação de alegria, os rabos viessem a se enroscar uns nos outros
o que provocaria inevitável confusão. E assim foi feito.
À medida que os cachorros chegavam ao baile, tiravam o rabo, entregavam
para o porteiro e recebiam uma senha para retirar o respectivo rabo quando fossem
embora.
O baile seguia calmamente com os pares caninos dando voltas no salão. A
orquestra tocava bolero, tango, mambo e principalmente pagode e samba de
gafieira porque aquela cachorrada era chegada num sambinha.
Lá pelo meio da madrugada, o Joca, um dobermann
muito metido ficou doido quando viu a Dogmar, uma poodle toda branquinha
dentro de uma minissaia de fechar o comércio tendo ao lado um vira-lata com cara de fraco. O Joca não teve dúvida.
Foi tirar a Dogmar pra dançar. O vira-lata era faixa preta simplesmente e fez o
Joca rebolar sem bambolê.
O baile virou um tremendo sururu. Era mesa que voava. Cadeirada na cabeça
era o que não faltava. A orquestra tentou acalmar os ânimos e botar ordem no
recinto atacando um sambão tradicional. Não adiantou nada. O pau continuou
comendo solto. O pistão tirou a surdina e tocou bem alto pra polícia não manjar
a bagunça.
De repente um irresponsável, porque não era verdade, foi só pra zoar,
gritou: Fogo!
Não deu outra. Todo mundo se precipitou como doido para a saída. O
porteiro foi atropelado. Ninguém deu bola pra aquela história senha para
retirar o seu rabo. À medida que os cachorros conseguiam se livrar do salão e
passavam pela portaria pegavam a esmo o primeiro rabo que lhes caía na pata,
botavam no respectivo traseiro e caiam fora. Não prestavam a mínima atenção se
o rabo que tinham agarrado era o seu ou não.
É claro que aconteceu o que era de se esperar. Mais tarde, já mais calma,
com o juízo no lugar, a cachorrada foi percebendo que o rabo que agora carregavam
no traseiro não era necessariamente o seu. Ele havia sido trocado por causa
daquela confusão toda que tinha acontecido no baile.
Desde então, na tentativa de recuperar o rabo perdido, os cachorros
passaram a procurar nos traseiros dos outros companheiros o seu próprio rabo. ´
É por isso que os cachorros, quando se encontram pelas ruas, cheiram o
rabo um do outro.
(do livro "54 histórias que minha avó contava na kombi")
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