segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O agora já era!

O presente, na flecha do tempo, 
foi o futuro, instante antecedente que
instantaneamente,
será o passado, instante subsequente 
irreversívelmente.

E a gente não sente 
engalfinhados no balanço das horas,
cotidiano, tarefas banais, vida mesquinha
todavia,se achando os tais.

E aqueles projetos? os grandes, com sustança? 

E os não tão grandes, os médios, os pequenos?
 tudo pro ralo da vida marota?
atalho saída pra virar tudo bagulho?

E a noite de novo dormir é preciso 
bem tem quem tem um abrigo, amigo
é pra essas coisas, que coisas?
por favor, me esclareça! 

E de manhã (se houver amanhã) o recomeço,
ciscar o nada, garimpar o vazio,
quem sabe talvez encontre alguma pepita, pirita, ouro dos trouxas,
zorra! nem isso! 

O difícil não é fácil! O difícil pede açoite!

Que seja!

Boa noite!

domingo, 18 de agosto de 2024

Sobrepeso

 


me considero um sujeito manso 

entre sorrisos não me canso de pensar (com esforço) 

“ainda venço esse peso” 

além disso, acho que nasci para dançar 

porque desde cedo entrei na dança 


ainda no berço

minha mãe contava, eu dançava e sorria

agitava as perninhas como uma dança dando risada, talvez querendo chamar a atenção para lembrar que a mamada estava atrasada 

na adolescência

quando meu pai tossia, por causa do catarro do cigarro que precocemente o levou para o túmulo e se exaltava pelo efeito do álcool

eu, para relaxar a tensão, sorrindo dançava 

quando minha mãe se punha a soluçar, por causa da sua eterna infelicidade 

eu, para tentar alegrá-la, dançando sorria 

mais tarde 

se me provocavam, sorria e ensaiava uns passos de dança 

nem que fosse a dança de rato  


e por isso digo que sou um sujeito manso 

predestinado sorridente dançarino pesado

pra não arriar eu danço pra não chorar eu rio 

e assim procuro aliviar minha sobrecarga

domingo, 11 de agosto de 2024

Tarde demais

embora diferentes somos iguais num ponto

nosso fim comum é virar pó um dia

essas palavras pedestres representam situação que creio só podemos inferir por analogia porque na hora desse nosso ver para crer sob o ponto de vista terrestre nosso eu não estará ali pra conferir

eu por exemplo quando estiver presente nesse fim de festa mundano caso ainda tiver consciência de mim talvez assim pensasse:

— ah quisera ter dado e recebido mais beijos desviado os olhos do meu umbigo agido às claras sem a camuflagem da meia-luz trocado o áspero pelo suave empregado discurso aberto e franco em vez de murmúrios cheios de subterfúgios sentido piedade em lugar de crueldade pretendido tesouros mais puros em vez do dinheiro até o total esfacelo e principalmente amado o próximo como a mim mesmo

e provavelmente ainda concluiria:

— pena isso não ter acontecido mas agora é tarde nada mais pode ser feito

domingo, 4 de agosto de 2024

constrito em meu canto desfio meu canto 

suas idas e vindas suas voltas em ritmo frouxo 

melodia abafadiça desarmonia 

meu devaneio 


se me fosse dado sabê-lo sintonizado 

nem que fosse a ouvidos moucos 

meu balbucio rouco 


clamor de velho criança parado no era uma vez 

perdido na melancolia de sonhos desfeitos num sopro 

vã esperança de confundir poesia com vida 

tentativa para um viver melhor 

dono somente de letras gastas quais velhas putas 

que se dão a qualquer um a qualquer preço 

para formar fatigadas frases roubadas do baú da literatura 

lamentosa voz obscura que quer clamar amor 

e sucumbe sem estrondo à porfia da realidade  

e se sente carente de sentido 

dilatando os limites desta densa sombra escura 

que insiste em me envolver