domingo, 15 de novembro de 2020

O universo e a mosca na sopa

regime alimentar é mesmo um saco mas

o endocrinologista me encostou na parede

ou sigo à risca a dieta 

ou não vou durar mais muito tempo


outro dia enquanto esperava que a sopa dietética

receitada para meu magro jantar diário esfriasse

me distraí lendo um artigo 

em uma dessas revistas de cultura prêt-à-porter 

que abordava coisas inacreditáveis sobre o universo


fui informado por exemplo que o universo

segundo teorias científicas elaboradíssimas

suportadas por práticas engenhosíssimas 

e caríssimas

tem a bagatela de 15 bilhões de anos


tudo começou com uma baita explosão 

carinhosamente batizada de big bang

antes do começo não tinha nada pois

senão o começo não seria o começo pá


aos exatos 3 minutos de vida 

o universo bambino

quem suporia tal desatino

era uma sopa primordial

de partículas elementares 

a voar por todos os ares

cuja natureza é inimaginável

ao comum dos mortales

na maior das quenturas 

com 1 bilhão de graus 

de temperatura


dali pra frente aquela zorra toda

só fez foi expandir sem demora 

e com a expansão foi se resfriando 

sem chegar quiçá a ficar gripado


surgiram as galáxias as estrelas

os planetas e tantas cositas más

dizem que exatos 5 bilhões de anos atrás

surgiu este nosso mundão velho sem porteira 

ao qual temos dado o melhor de nós

pra mais rápido de novo transformar em poeira

apesar dos alertas de tantos a levantar a voz


ao ler sobre a questão da tal 

sopa superquente primordial

lembrei da sopa dietética que

sobre a mesa esfriava no prato


a contragosto deixei de lado

aquelas lucubrações cosmológicas

tão superinteressantes

e voltei minha atenção

para o lado chão da vida


o raio da sopa não só estava gelada

como em seu seio ainda abrigava

uma mosca desesperada se debatendo

inutilmente ali já quase morrendo

tive um pequeno vacilo humanitário

e pensei em salvar o inseto atrevido

porém decidi deixar de ser otário 

e num gesto muito bem decidido

mandei tudo sopa inseto

meu jantar daquela noite  

pro fundo do esgoto direto 

sem complacência pelo ralo da pia


peguei a revista que falava de astronomia

e rumei pro mcdonald’s perto de casa


retomei a leitura do assunto

a contragosto abandonada há pouco  

praticamente indescritível do big bang

enquanto saboreava um delicioso bigmac


consegui creio ter captado o conceito

fundamental ao que tudo indica

do que é uma estrela gigante vermelha

degustando uma porção gigante de mcfritas


embora um tanto perdido confesso

em meio a tantas ideias abstrusas de

quarks e gluons

matéria e energia escura

anãs brancas e supernovas  

não deixei escapar a super mcoferta de sobremesa

tudo bem regado com 1 litro de coca zero é claro


preocupado com o futuro do universo

daqui a alguns bilhões de anos

se ele vai de fato continuar talvez 

a se expandir para sempre de vez

até atingir um triste fim coitado

completamente escuro e gelado 

exaurido de suas fontes energéticas

quis esmiuçar um pouco mais

por ser considerada estratégica

entre inúmeros cientistas respeitáveis 

na medida do possível

a relação da quantidade de matéria existente

com a chamada densidade de matéria crítica


antes porém abocanhei dois sorvetes mccolosso

que me encheram o bucho até o pescoço

esquecido do estado do meu corpo com seu peso crítico  

que ao menor esforço estupora de cansaço


e assim aprendi um bocado sobre o universo   

comendo graças à mosca na sopa  

um mundo de entulho 

e mandando meu sofrido regime pro espaço

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