domingo, 24 de novembro de 2019

Esse eu

o meu corpo
que eu sinto por dentro
ora bem ora mal
que eu vejo por fora
jovem outrora hoje alquebrado
com o qual tenho me apresentado
para os outros com seus disfarces
a mim mesmo com seus tormentos
é a representação única e exclusiva
de um conjunto de átomos comuns
ao universo e reunidos por mero acaso
numa forma que me constituiu como ser
ser que não é mas que está
pois em permanente mudança de estado
na aparência e no comportamento
desde o momento da junção daqueles
determinados óvulo e espermatozoide
da minha mãe e de meu pai para então
não mais cessar até seu instante final
do que se convencionou chamar vida
quando a estrutura orgânica complexa
dotada de pele carne ossos cérebro
que se movimenta se agita e estanca
que procura ordenar seus pensamentos
que sente frio calor bem-estar fadiga dor
desejos tantos procedentes descabidos
paz angústia alegrias tristezas amor
ódio vaidade cobiça gula preguiça
deixará de existir como um arranjo
particular de matéria e de mente
para retornar ao amontoado simples
de partículas elementares do mundo
que talvez um dia venham a fazer parte
de moléculas de espinhos de mandacaru
ou componentes do dna de minhocuçu

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