domingo, 25 de junho de 2017

Delírio dominical


logo cedo a longa espera abominável espera

na sala de espera do consultório médico

porra é domingo e está superlotado de gente

não é possível esta cidade está

cada dia pior insuportável

ainda bem que tenho você pra me suportar

compreender amar

o arroz congelado descongelado no micro-ondas

requentado no forno convencional a gás

ficou duro uma merda

mas não importa o que importa é que estamos aqui

juntos nos querendo nos amando

comendo este arroz duro de merda

tomando este chardonnay importado argentino gelado

uma delícia você não acha acho que bom

depois vamos tomar um café vamos

a gente podia ir dançar

preciso cuidar das plantas

cheiro de mato cortado

cheiro de terra molhada

e no céu

o dinossauro quer te abocanhar

avanço empunhando minha espada

pra te defender é claro

não é necessário o vento amigo colabora comigo

transforma o dinossauro em sapo

que a moça donzela deve beijar

pra ele virar príncipe desencantado

a lua quarto crescente brilha no quarto

na sala na varanda

cresce seu brilho ao te ver pra ela olhar

olho daqui de cima a vida lá embaixo

e olho pra cima e acho que percebo

quanto sou arrogantemente insignificante

no banho o sabonete me transforma em espuma

e meu corpo imundo escorre

pelo ralo do box do banheiro

arrastado para o esgoto com a água do chuveiro

momentaneamente aqui neste ambiente

sou apenas espírito

perfume de magnólia artificial no ar

mais tarde de madrugada na cama

voltarei a me corporificar

não perdes por esperar

por ora devo armazenar bom estoque de cuspe

pra lubrificar o membro e poder melhor te penetrar

e então sim definitivamente me dissolver

me dissolver indefinidamente em ti

caramba esta grappa é mesmo danada de boa

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