quem me dera conseguisse
fabricar hoje um paquiderme
pobre paquiderme que fosse
mas a cada dia que passa
menor parece o interesse nisso
parcos os recursos disponíveis
pra levar avante intento difícil
até os velhos móveis
que lhe dessem talvez algum apoio
a cupinzada transformou tudo em pó
paina ou algodão pra rechear nem pensar
acabou-se o que era doce
suas orelhas ficariam por fixar
a cola endureceu antes de usar
vencido o prazo de validade
a tromba viraria carranca
cara amarrada pura
zanga
na hipotética arquitetura
as presas há muito teriam tido fim
surrupiadas pelos negociantes de marfim
dos prováveis olhos cataráticos
porejaria fluído fétido viscoso
provocado pela poluição do ar
pobre paquiderme
se saísse a procura de amigos
não encontraria talvez ninguém
que se dispusesse a lhe dar alguma atenção
ficaria enfastiado
num mundo de alucinação
paquiderme desastrado
se fosse pelas ruas povoadas
de multidões a se engalfinhar
ninguém quereria lhe ver olhar
nem mesmo pra rir do seu todo ridículo
nestes tempos competitivos time is money
não há tempo a perder com bobagem honey
e alta noite
caso não tivesse sido atropelado
e em mil pedaços estraçalhado
por moto que não respeitou a sinaleira
avançando em desembestada carreira
caminhão ou automóvel na contramão
voltaria o paquiderme fatigado
como ao fim de uma festa
pobre para o jardim zoológico
que na cidade não sendo floresta
é a casa do paquiderme lógico
amanhã não sei se recomeço
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