domingo, 22 de janeiro de 2017

O paquiderme


quem me dera conseguisse

fabricar hoje um paquiderme

pobre paquiderme que fosse

mas a cada dia que passa

menor parece o interesse nisso

parcos os recursos disponíveis

pra levar avante intento difícil

até os velhos móveis

que lhe dessem talvez algum apoio

a cupinzada transformou tudo em pó

paina ou algodão pra rechear nem pensar

acabou-se o que era doce

suas orelhas ficariam por fixar

a cola endureceu antes de usar

vencido o prazo de validade

a tromba viraria carranca

cara amarrada  pura zanga

na hipotética arquitetura

as presas há muito teriam tido fim

surrupiadas pelos negociantes de marfim

dos prováveis olhos cataráticos

porejaria fluído fétido viscoso

provocado pela poluição do ar



pobre paquiderme

se saísse a procura de amigos

não encontraria talvez ninguém

que se dispusesse a lhe dar alguma atenção

ficaria  enfastiado num mundo de alucinação



paquiderme desastrado

se fosse pelas ruas povoadas

de multidões a se engalfinhar

ninguém quereria lhe ver olhar

nem mesmo pra rir do seu todo ridículo

nestes tempos competitivos time is money

não há tempo a perder com bobagem honey



e alta noite

caso não tivesse sido atropelado

e em mil pedaços estraçalhado

por moto que não respeitou a sinaleira

avançando em desembestada carreira

caminhão ou automóvel na contramão

voltaria o paquiderme fatigado

como ao fim de uma festa

pobre para o jardim zoológico

que na cidade não sendo floresta

é a casa do paquiderme lógico

amanhã não sei se recomeço

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