Era uma vez um
menino que vendia na feira dois canarinhos, cada um numa gaiola. O da gaiola da
direita cantava de rachar o bico. O da esquerda ficava mudo. Só pulava de um
poleiro a outro arrupiando as penas. Um homem passou e perguntou quanto custava
o canarinho cantor. O menino respondeu que custava cinquenta reais. E o
mudinho? — inquiriu o homem. O menino respondeu que custava o mesmo preço,
cinquenta reais. O homem disse que aquilo não estava certo, que o mudinho devia
custar menos, afinal ele não cantava. O menino respondeu que estava certo, sim.
O cantor só cantava por causa do mudinho. Era como se o mudinho fosse o
compositor e o cantor o intérprete. Se o senhor levar só o cantor, assim que
ele ficar sozinho ele para de cantar. Tem que levar os dois. O cantor só canta
por causa do mudinho. E depois se o senhor colocar os dois numa mesma gaiola
nasce mais canarinho — respondeu o menino. O homem então levou pra casa por cem
reais o casal de canarinhos. O macho cantador e a fêmea encantadora.
(em “Crônicas Anacrônicas – Grotesca Filosofia Mediocridade
Sublime (inédito))
Nenhum comentário:
Postar um comentário