solitário sentado à janela semicerrada
aguço o ouvido e ouço os lobos uivando
na escuridão permanente da capital do país
sinto um fluido fervor percorrer as flácidas entranhas
um sopro mais forte do vento assobia pela frincha da janela
lembro de meus dons de dançarino na mocidade
e que preciso controlar mais o sal com a idade avançada
o orgulho de saciar a gula erguer os copos como se fosse dia de festa
o gozo intacto só para os privilegiados longe está
tarda ainda a tarde do dia da inalcançável alegria geral
sozinhos corpos tão franzinos diante de tanta balbúrdia
que aturde onde sopra o sopro da inocência perdida há tempo
ouve-se o tic-tac de velhos maquinismos atemporais nas fábricas
apertando operários parafusos cruzetas falsas promessas
a tal ponto que me sinto muito confuso diante de tantos aparelhos
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