domingo, 2 de abril de 2023

Hipertensão

solitário sentado à janela semicerrada 

aguço o ouvido e ouço os lobos uivando 

na escuridão permanente da capital do país 


sinto um fluido fervor percorrer as flácidas entranhas 

um sopro mais forte do vento assobia pela frincha da janela 

lembro de meus dons de dançarino na mocidade 

e que preciso controlar mais o sal com a idade avançada 


o orgulho de saciar a gula erguer os copos como se fosse dia de festa 

o gozo intacto só para os privilegiados longe está

tarda ainda a tarde do dia da inalcançável alegria geral 


sozinhos corpos tão franzinos diante de tanta balbúrdia 

que aturde onde sopra o sopro da inocência perdida há tempo 


ouve-se o tic-tac de velhos maquinismos atemporais nas fábricas 

apertando operários parafusos cruzetas falsas promessas 

a tal ponto que me sinto muito confuso diante de tantos aparelhos 

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