por que insistimos em vender gato por lebre
pergunto de mau humor caso tenha febre
e não tigre-de-bengala em lugar de canguru
ao atônito orangotango que me espreita nu
com olhos miúdos abertos a nova forma de ser
fruto de palpitações neuronais ávidas de saber
e aproveito para exibir gestos frios fingidos
entre centelhas crispantes de troncos rígidos
se eu ainda pudesse expor uma vasta cauda
ficaria o tempo todo com meu pelo eriçado
pondo pedra sobre pedra em poços de caldas
seria ouro sobre azul além de é claro gozado
e depois quando tarde da noite estroina
perambularia pelos becos e as esquinas
da cidade renitente em admitir a derrota
até que a fadiga me levasse à bancarrota
finalmente me fazendo sentir este deserto
que trago estampado no rosto recém-coberto
pela vergonha por ter percebido a mesquinhez infinita
da vaidade diante da magnitude de uma estrela extinta
a partir deste instante qualquer coisa chamada de alma
localizada em algum ponto do corpo cintilaria com calma
permitindo embora estrábico visse quase sem temeridade
aquilo que temos a pretensão de saber o que é a verdade
condição necessária não suficiente para dormir tranquilo
ainda que sonhasse eventualmente com areias movediças
o que dadas as atuais circunstâncias sociais disso e daquilo
representaria bem mais que benesse em meu tempo-espaço
e assim chego ao fim mirando no meio do urinol
de mais estas pobres divagações puro besteirol
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