domingo, 4 de dezembro de 2022

Quase poema meio prosaico

por que insistimos em vender gato por lebre

pergunto de mau humor caso tenha febre

e não tigre-de-bengala em lugar de canguru

ao atônito orangotango que me espreita nu

com olhos miúdos abertos a nova forma de ser

fruto de palpitações neuronais ávidas de saber

e aproveito para exibir gestos frios fingidos

entre centelhas crispantes de troncos rígidos


se eu ainda pudesse expor uma vasta cauda

ficaria o tempo todo com meu pelo eriçado

pondo pedra sobre pedra em poços de caldas

seria ouro sobre azul além de é claro gozado 


e depois quando tarde da noite estroina

perambularia pelos becos e as esquinas

da cidade renitente em admitir a derrota

até que a fadiga me levasse à bancarrota 

finalmente me fazendo sentir este deserto

que trago estampado no rosto recém-coberto

pela vergonha por ter percebido a mesquinhez infinita

da vaidade diante da magnitude de uma estrela extinta


a partir deste instante qualquer coisa chamada de alma

localizada em algum ponto do corpo cintilaria com calma

permitindo embora estrábico visse quase sem temeridade

aquilo que temos a pretensão de saber o que é a verdade

condição necessária não suficiente para dormir tranquilo

ainda que sonhasse eventualmente com areias movediças

o que dadas as atuais circunstâncias sociais disso e daquilo

representaria bem mais que benesse em meu tempo-espaço


e assim chego ao fim mirando no meio do urinol

de mais estas pobres divagações puro besteirol 


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