segunda-feira, 25 de abril de 2022

Pane no gps

era uma tarde azul de primavera fecunda
em sua órbita o satélite tirava fotografia
da terra a intervalos regulares de 1 s

pela estradinha que serpenteava a encosta
o menino franzino ia descalço assobiando
carregava a colheita do dia de erva nas costas 
a quantidade até que fora razoável mas
estava longe dos tempos áureos do avô 
que
não precisava ter fugido com a amante do padre 
não precisava 
bastava continuar fingir
qualquer pessoa tanto de bom quanto de mau
senso está cansada de saber que tudo isso é falso
exceto carregar pedras pro alto do morro 
pra deixá-las depois rolar morro abaixo 
fá-lo a sério
compromisso diário o homem feito de otário
por aqueles que carregam a cruz como credo
dos tolos que não ligam se lhes enfiam espinhos
da cabeça aos pés inclusive no rabo e os deixam 
cobertos com um mísero trapo que mal esconde
as partes pudendas igual ao que usam 
nos quadros de debret sem pai para lhes orientar
as crianças bem depressa tomam conta do pedaço
porém é preciso não exagerar no rigor são as duas
faces da mesma moeda velho e desgastado dinheiro
que dele todo indivíduo mais dia menos dia faz uso
por mais estúpida
e feia
tenha sido sua passagem por este mundo

mãe também deve dar orientação principalmente
sendo uma mulher centrada e sensata
tendo vindo de onde quer que seja
até mesmo se nascera em berço de ouro ou de prata
com todo o respeito devido como se dizia antigamente
é uma simples questão de bondade sem caridade

entrementes quando o sujeito não dorme
satisfeito ao acordar o pensamento passa a voar
pelos lugares mais esdrúxulos sem registro na caixa
preta cerebral afinal ninguém é de ferro e mesmo
que fosse enferrujaria não ria o ser humano
jamais conseguiria ficar eternamente
em estado de vigília necessita de um terceiro
que lhe renda após certo período máximo sem ter pregado
os olhos ainda que seja um empregado modelo
uma vez que depois desse tempo por mais exemplar ele fosse
haveria risco concreto de que mandasse tudo pro raio que o parta

foi o que certa feita sucedeu comigo e um amigo
conto contudo lhes encareço não ser alvo de riso
pois me considero um sujeito direito talvez 
ciente de que água e óleo são praticamente
imiscíveis que gosta e respeita as flores
embora inúmeras vezes tenha dado com os burros
n’água e pra comer a polpa da fruta teve que engolir
também o caroço sem dar um pio quem dera gritar
para subserviente atender os desejos como gostam
seus superiores de graça
sem reclamar nem olhar para trás atrás
de um olhar acalentador seguindo sem parar pelas estradas
esburacadas da vida visto o costume de carregar água em bilhas
agora é raro como mulheres sair com saias abaixo dos joelhos

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