domingo, 20 de dezembro de 2020

Falando para as pedra

 vivemos no reinado do medo

onde a todos apetece o podre

e o fruto fatal de um amor ruim

está pronto para no parto ter fim


mas o mundo não é só isso

há também muitas coisas boas

casas velhas ainda não vendidas

com as paredes descascando

a espera da demolição para aí

se erguer um novo edifício alto


um pouco distraído perdendo o pé

das coisas abro outra vez a porta errada

perdido num círculo vicioso de palavras e

por não ter tido nunca vocação pra nada

por nunca ter-me especializado num desejo

por jamais ter tido ponto de partida

usufruo ao menos o consolo de não ter

de estabelecer nenhum ponto de chegada

ficando livre de qualquer tipo de apelo


quero contudo amar meus semelhantes 

desde que os tenha sob meu jugo para

à noite em sonhos vomitar a comida estragada

que comi semiacordado durante mais um longo dia

enquanto o tempo vai passando passando passando

provocando meu natural apodrecimento ao qual

por ser um produto perecível 

como todo ser orgânico estou inevitavelmente sujeito

sem deixar de lembrar que o mundo é grande

e maior o cálido aconchego eterno do inferno

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