manoel de barros poeta maior
entendedor de tudo sobre o nada
arauto de sábias ignorãnças
das grandezas do ínfimo
num de seus inspirados poemas rupestres
diz sofrer um encantamento poético
ao olhar a garça-ave e a palavra garça
embalado que fica pela comunhão
do corpo níveo da ave
em seu voo elegante e livre
sobre as ainda lindezas do pantanal
com o corpo sônico da palavra
em sua intrínseca beleza letral
eu eduardo poetastro menor
bisbilhoteiro de nada se tanto
neste poemículo citadino me atrevo a pisar
ao avesso as pegadas poéticas de mestre manoel
pra dizer que sofro um desencanto profundo
ao ver o estado da pomba-ave nesta cidade
e ler a palavra pomba no dicionário
perturbado que fico pela dissonância
entre o corpo físico imundo da ave
e o corpo sônico harmônico da palavra
ave símbolo da paz e da pureza
na metrópole moderna se metamorfoseou em rato alado
e se imiscui sem cerimônia por todos os lados
domina o espaço de outros pássaros
caminha atrevidamente pelas calçadas e praças
ciscando lixo em busca frenética por alimento
aboleta-se em árvores postes monumentos telhados
defecando procriando espalhando piolhos fungos bactérias
dando com sua presença predatória
à maioria das cidades do mundo
valiosa cota de contribuição para a degradação
da qualidade de vida e do meio ambiente urbano
degradação que vem na cola
ao que se convencionou chamar de progresso
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