domingo, 23 de fevereiro de 2020

Lucubração cosmogônica

fico feliz em pensar o universo
lugar onde viajo como passageiro
em pequeno planeta nominado terra

um dia desses qualquer minha passagem
perderá a validade terei de me escafeder
abandonar a posição privilegiada e me
transformar em mísera massa misturada
à terra da terra de volta de onde partiu
sabe-se lá quando dando tantas e boas
voltas suaves e outras bastante tortuosas

creio não haver precisão de pensar
uma força formadora e mantenedora
dele como um todo organizado
regido por ente supremo sempre
em tudo presente divino regente
das esferas em magnífica harmonia
posso imaginar seja ele um contínuo
descontínuo contido em si mesmo sem
fronteira com o dentro contendo o fora

aceito numa boa que ele seja formado por
matéria e energia em permanente interação
num estado desordenadamente organizado
digamos uma bagunça em busca de ordem
atingida em alguns pontos à custa de sacrifícios
ou uma arrumação querendo sempre virar zona
pois é o caos o estado desejado de todas as coisas

se teve um início é razoável que tenha um término
para poder quiçá recomeçar outra vez por que não
do mesmo jeito ou de outro modo qualquer não sei
eterna dualidade corpúsculo onda no espaço infinito
em que o tempo nasce como conceito consequente
do movimento percebido como um ato consciente

amanhã quem sabe passe a considerar tais
ideias de maneira diversa dependendo do
que a ciência venha a me ensinar
ou seja levado a encarar a situação
sob o prisma de outra mística mais
tradicional com deuses anjos espíritos
ou graças a alguma nova doença mental
atinja uma condição melhor que a atual
e surte definitivamente de vez talvez

por ora penso essas coisas assim
e me dou por satisfeito com isso
fico feliz mas fico ainda mais feliz
quando não penso em nada disso
e fico só em casa vendo tevê

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