domingo, 16 de junho de 2019

Quis o destino

por me ter unido a ela passei
quantas e tantas duras agruras
no angusto peito sonhos desfeitos
em sobejas umbrosas horas fora
as aparências e as coincidências
delineavam quiçá quietude
falsidade pura sob o céu ateu
aqui ali surgiam de penoso eito
cadentes infecundos frutos
suas palavras agulhas dardejando
dentro a revolta me tornando bruto
passo a passo me despia da inteligência
andrajosa que ainda me restava
pra me vestir de todo caduco véu
e meu grito mal se fazia em balbucio
nasciam desde o primeiro instante
daquela união tão malfadada
outras duas vidas estropiadas
a percorrer veredas errantes
do escarcéu da conjunção
emergia a evidência de que
ela logo acabaria não podia
durar muito tempo mais
exilado em meu próprio canto
sequei o pranto me tornei calado
sem querer ser rude
relutei o quanto pude
colocar no lixo aquilo que já
há bom tempo estava sucatado
assim mesmo sofri acusação de agir
de modo irrefreado das obrigações fugir
dos deveres buscar me evadir assim
quis me imputar uma putada descarada
que fique anotado que na lei me apoiei
e se alguém por ventura prejudiquei
que me seja aplicada pena severa
tenho endereço fixo estou à espera
erodido de sentimentos segui caminho
petrificado sofrendo no anonimato
porém livre daquela escória afugentado o desejo
anteriormente constante de pensar agora me mato
lançado em nova torrente
do curso da vida conheci outras gentes
num liame de galhos folhas e palha
ora alegre com amigos ora triste com a gentalha
destarte os dias foram passando
até que o destino entendeu que
talvez eu merecesse uma pausa
a onda furiosa fosse decomposta
a amargura enfim posta de lado
vivesse sem nenhuma ameaça mais
tivesse dali pra frente só tempo feliz
assim o destino determinou assim ele quis
e pra isso me colocou numa linha de bonança
me deu uma mulher maravilhosa preciosa querida
que transformou este velho de novo numa criança

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