por mais que evolua a inteligência humana
por mais que progrida a ciência humana
embora a sabedoria humana
de uma maneira geral
não acompanhe esses eventos
provavelmente jamais o ser humano
consiga dar explicação cabal
do porquê do fenômeno da vida
vai daí que acabe apelando
ainda que em última instância
para alguma forma de teologia
pode especular acerca
da origem do universo
o big bang
a curvatura do espaço-tempo
os buracos negros
as galáxias as estrelas os planetas os cometas
do surgimento de vida na terra
do processo evolutivo das espécies
ao longo das longas eras
pode entender nos mais íntimos detalhes
como se dá a reprodução
seu ciclo biológico sua evolução
seus azares e seu fenecimento
mas por que existe vida
talvez nunca alcance a compreensão
permanecendo o fenômeno
para sempre um mistério
a menos que se aceite a ideia
de que o fato se deu por mero acaso
a partir de uma conjunção particular
acidental de partículas elementares
que passaram a evoluir para formas
cada vez mais e mais complexas
deixando de lado por ora
essas frouxas especulações metafísicas
sobre a justificativa da existência da vida
quiçá o que fosse
digno de apontamento
se merecesse esse direito
seria um fato óbvio ululante
a vida
por alguma razão
é um ato de criação
com a característica notável
de ter a vontade inabalável
de querer permanecer
a vida
trocando em miúdos
quer viver
e viver sempre
cada vez mais
a vida
para atingir seus fins
criou as criaturas
vegetais e animais
com a propriedade de perenizar a vida
por meio do processo de reprodução
o que resultou em complicação
a vida
percebeu a enrascada
em que se meteu
ao querer se eternizar por meio
da reprodução das criaturas
criara um moto-perpétuo no qual
as criaturas cresceriam indefinidamente
aumentando as necessidades de meios
de sobrevivência de forma insustentável
a vida
procurou uma saída
para o impasse
que ela mesma criou
inventou então o fenecer
para dar cabo das criaturas
a vida
com tal profilático processo
de renovação de estoque
denominado também morte
vai-se mantendo viva
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