Era uma vez, na
Terra-do-Faz-de-Conta, uma jarra de vidro, um bolo de barro, uma batata-doce, uma
mosca, uma espiga de milho e uma agulha. Todos moravam juntos numa mesma casa
no campo. Não era de hoje que a casa andava uma bagunça e a vida deles bem desorganizada.
Um dia decidiram finalmente que deviam organizar melhor as coisas e deixar a
casa toda ajeitada. Para tanto resolveram fazer uma reunião para dividir as
tarefas necessárias a serem realizadas.
A jarra de vidro, que tinha
pretensões de líder, tomou a iniciativa de organizar a reunião para combinar a
divisão das tarefas. Depois de muita discussão, troca de idéias, considerações,
ponderações e que tais, ficou estabelecido
que o bolo de barro se encarregaria de ir buscar água na fonte. A batata-doce tiraria
o leite da vaca no curral. A mosca levaria o boi para pastar. A espiga de milho
cuidaria da horta. A agulha faria a faxina da casa. E à jarra de vidro caberia
a responsabilidade de vigiar a casa.
Feita a divisão das tarefas, a jarra
de vidro subiu numa prateleira do armário da cozinha e aí ficou tomando conta
da casa. Uma vez que tinha muito pouco que fazer aproveitou e ficou pensando na
vida. Tanto pensou que acabou pegando no sono.
Os outros partiram para realizar as
tarefas que lhe competiam.
O bolo de barro foi buscar água na
fonte. Começou a encher um balde com água, mas ficou todo molhado por causa da
água que espirrava pra todo lado. Como era
de barro virou um monte de lama que se esparramou pelo chão. E então não
chegou água nenhuma lá na casa.
A batata-doce foi para o curral
ordenhar a vaca. Enquanto ajeitava o banquinho para sentar e ordenhar mais
confortavelmente não percebeu que a vaca virou o pescoço para trás e viu aquela
batata-doce apetitosa ali dando sopa. Dona vaca nem pensou duas vezes, abriu o
bocão e abocanhou a batata-doce com casca e tudo num segundo. A batata-doce
virou almoço de vaca. E então não chegou leite nenhum lá na casa.
A mosca foi levar o boi para pastar
no pasto. Ficou voando distraída perto do bumbum do boi. De repente, o boi
sentiu uma dor de barriga de lascar, levantou o rabo e ploft! fez um monte de cocô que caiu bem por cima da
mosca e foi se estatelar no chão. A mosca ficou presa naquele mundaréu de caca
de boi. O boi sem ter ninguém que ficasse tomando conta dele partiu numa boa pela
estrada afora, foi embora e nunca mais voltou pra casa.
A espiga de milho saiu para cuidar da horta,
mas como estava muito sol, deitou debaixo de uma árvore para aproveitar a
sombra e descansar um bocadinho. Em instantes começou a roncar. O ronco da
espiga de milho atraiu um ratão do banhado que rondava pelas imediações procurando
comida porque estava com uma fome de leão. O ratão foi até a espiga dorminhoca
e em menos de um minuto roeu o milho todinho. A horta não tendo ninguém que
cuidasse dela virou um matagal. E então não chegou verdura nenhuma lá na casa.
A agulha foi procurar uma vassoura
para varrer o chão da sala, mas escorregou numa casca de banana que alguém em
vez de colocar no lixo tinha jogado no chão, caiu numa fresta escura do
assoalho de madeira e ficou ali presa, entalada sem poder se mexer. E então não
teve limpeza nenhuma da casa.
No final do dia, quando estava quase
escurecendo, a jarra de vidro acordou de seu vigilante repouso e vendo que nada
tinha sido feito e que não tinha ninguém em casa pôs-se a reclamar: — Onde será
que esse bando de preguiçosos se meteu? Não cumpriram com nenhuma das tarefas
que combinamos! São todos uns incapazes! Se não sou eu que cuido de tudo não acontece
nada nesta casa! Tenho que ir investigar o que está acontecendo! — se esqueceu
que era de vidro, pulou da prateleira e se arrebentou em mais de mil pedaços no
chão. E então não teve mais ninguém pra organizar a divisão das tarefas de
arrumação nem tomar conta da casa.
Assim a bagunça continuou como sempre
tinha sido só que agora sem ninguém pra se preocupar com ela.
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