domingo, 1 de novembro de 2015

A DIVISÃO DAS TAREFAS

           Era uma vez, na Terra-do-Faz-de-Conta, uma jarra de vidro, um bolo de barro, uma batata-doce, uma mosca, uma espiga de milho e uma agulha. Todos moravam juntos numa mesma casa no campo. Não era de hoje que a casa andava uma bagunça e a vida deles bem desorganizada. Um dia decidiram finalmente que deviam organizar melhor as coisas e deixar a casa toda ajeitada. Para tanto resolveram fazer uma reunião para dividir as tarefas necessárias a serem realizadas. 
            A jarra de vidro, que tinha pretensões de líder, tomou a iniciativa de organizar a reunião para combinar a divisão das tarefas. Depois de muita discussão, troca de idéias, considerações, ponderações e que tais, ficou  estabelecido que o bolo de barro se encarregaria de ir buscar água na fonte. A batata-doce tiraria o leite da vaca no curral. A mosca levaria o boi para pastar. A espiga de milho cuidaria da horta. A agulha faria a faxina da casa. E à jarra de vidro caberia a responsabilidade de vigiar a casa.
            Feita a divisão das tarefas, a jarra de vidro subiu numa prateleira do armário da cozinha e aí ficou tomando conta da casa. Uma vez que tinha muito pouco que fazer aproveitou e ficou pensando na vida. Tanto pensou que acabou pegando no sono.
            Os outros partiram para realizar as tarefas que lhe competiam.
            O bolo de barro foi buscar água na fonte. Começou a encher um balde com água, mas ficou todo molhado por causa da água que espirrava pra todo lado. Como era  de barro virou um monte de lama que se esparramou pelo chão. E então não chegou água nenhuma lá na casa.
            A batata-doce foi para o curral ordenhar a vaca. Enquanto ajeitava o banquinho para sentar e ordenhar mais confortavelmente não percebeu que a vaca virou o pescoço para trás e viu aquela batata-doce apetitosa ali dando sopa. Dona vaca nem pensou duas vezes, abriu o bocão e abocanhou a batata-doce com casca e tudo num segundo. A batata-doce virou almoço de vaca. E então não chegou leite nenhum lá na casa.
            A mosca foi levar o boi para pastar no pasto. Ficou voando distraída perto do bumbum do boi. De repente, o boi sentiu uma dor de barriga de lascar, levantou o rabo e ploft!  fez um monte de cocô que caiu bem por cima da mosca e foi se estatelar no chão. A mosca ficou presa naquele mundaréu de caca de boi. O boi sem ter ninguém que ficasse tomando conta dele partiu numa boa pela estrada afora, foi embora e nunca mais voltou pra casa.
             A espiga de milho saiu para cuidar da horta, mas como estava muito sol, deitou debaixo de uma árvore para aproveitar a sombra e descansar um bocadinho. Em instantes começou a roncar. O ronco da espiga de milho atraiu um ratão do banhado que rondava pelas imediações procurando comida porque estava com uma fome de leão. O ratão foi até a espiga dorminhoca e em menos de um minuto roeu o milho todinho. A horta não tendo ninguém que cuidasse dela virou um matagal. E então não chegou verdura nenhuma lá na casa.
            A agulha foi procurar uma vassoura para varrer o chão da sala, mas escorregou numa casca de banana que alguém em vez de colocar no lixo tinha jogado no chão, caiu numa fresta escura do assoalho de madeira e ficou ali presa, entalada sem poder se mexer. E então não teve limpeza nenhuma da casa.
            No final do dia, quando estava quase escurecendo, a jarra de vidro acordou de seu vigilante repouso e vendo que nada tinha sido feito e que não tinha ninguém em casa pôs-se a reclamar: — Onde será que esse bando de preguiçosos se meteu? Não cumpriram com nenhuma das tarefas que combinamos! São todos uns incapazes! Se não sou eu que cuido de tudo não acontece nada nesta casa! Tenho que ir investigar o que está acontecendo! — se esqueceu que era de vidro, pulou da prateleira e se arrebentou em mais de mil pedaços no chão. E então não teve mais ninguém pra organizar a divisão das tarefas de arrumação nem tomar conta da casa.
            Assim a bagunça continuou como sempre tinha sido só que agora sem ninguém pra se preocupar com ela.

(do livro “54 histórias que minha avó contava na kombi”) 
http://www.asabeca.com.br/detalhes.php?sid=29032015151549&prod=6201&friurl=_-54-HISTORIAS-QUE-MINHA-AVO-CONTAVA-NA-KOMBI-_&kb=1073#.VjYI9berTIV  

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